STÉDILE: "GOLPE DESTAMPARIA A REVOLTA POPULAR"

(Foto: Brasil 247)
João Pedro Stédile: "A mídia no Brasil é o principal partido ideológico da direita. Mas sua função é manter o governo acuado, com medo de fazer mudanças. Além disso, fazer uma campanha permanente na sociedade mantendo a hegemonia da visão de mundo burguesa, defendendo sempre os interesses dos privilegiados e os falsos valores do individualismo, egoísmo e consumismo, como se isso fossem valores da liberdade e da democracia".

Por Marco Damiani, no site Brasil 247, de 19/11/2014 (entrevista recomendada pelo companheiro Geraldo Guedes, advogado em Brumado-Bahia)

Em alta, recém chegado do Vaticano, onde participou de encontro de 100 movimentos populares do mundo com o papa Francisco, líder do MST não teme "viúvas da ditadura, que fizeram até o PSDB passar vergonha"; João Pedro Stédile afirma que qualquer tentativa de quebra da ordem institucional  traria o elemento da violência; "Seria destampada a caixa de pandora da revolta popular", avaliou; na condição de ser um dos poucos brasileiros que, com uma palavra, pode 'colocar o povo na rua', ele lembrou em entrevista ao 247: "Brincar com a democracia é muito perigoso"; ping pong

Marco Damiani, 247 – O quadro referencial do MST João Pedro Stédile acaba de chegar do Vaticano. Pela primeira vez na história da Igreja, oficialmente um papa avaliza uma grande reunião de movimentos populares. No caso, o encontro de uma centena de entidades, pensada e organizada pelos brasileiros do MST com seus colegas de luta pelo mundo. "O papa Francisco demonstra ter consciência das mudanças que precisam ser feitas", afirmou Stédile ao 247.

Mas, de volta ao Brasil, o que esperava o líder dos sem terra era um país em que setores de elite já discutiam as chances de uma quebra da ordem. Mais radicalmente, em cartazetes levados à avenida Paulista, em duas passeatas com menos de 5 mil pessoas no total, alguns pediram a tal "volta dos militares". De modo mais sofisticado, articulações em Brasília, a partir do escândalo de corrupção na Petrobras, vislumbram a chance de envolver a presidente Dilma Rousseff entre o cientes e tomar-lhe, pelo impeachment, o poder. Adeptos do caminho mais curto para este fim apostam num golpe de caneta do ministro Gilmar Mendes, do STF, que poderá censurar as contas da campanha do PT e atalhar uma crise institucional.

Stédile, um dos poucos brasileiros que tem condições, como se diz, de 'colocar o povo nas ruas', desdenha das três alternativas.

- Não vejo um movimento golpista. A conjuntura não permite, não haveria a menor chance de sucesso, diz ele.

- Numa hipótese mais radical, a burguesia sabe que estaria aberta a caixa de pandora da revolta popular. E isso é muito perigoso, completou.

Por e-mail, o líder popular que batalha há mais de 30 anos no mesmo campo social, sem ter caído em tentação de obter mandatos políticos ou assumir cargos bem remunerados, deu as seguintes respostas às nossas perguntas:

247 -  O sr. pressente algum tipo de movimento golpista contra a democracia e o resultado das eleições presidenciais? Onde ele se dá? Nas ruas, na mídia, na classe política?

João Pedro Stédile - Não vejo um movimento golpista. E não teria nenhuma chance de sucesso na atual conjuntura. Os tucanos chamaram mobilizações de protestos dia 15 de novembro, que são normais na democracia. E lá se infiltraram algumas viúvas da ditadura militar, que não merecem crédito, que não têm base na sociedade. Até os tucanos ficaram com vergonha. Os partidos da direita sabem que a tentativa de um golpe seria destampar a caixa de pandora da revolta popular. E isso é muito perigoso. 

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