OBAMA, CUBA E O NOVO TERRORISMO



(Foto: Internet)
O principal expoente do terrorismo financeiro – império contra Cuba - não é o infame verdugo vestido de negro, mas um afro-descendente de suaves modos, laureado com um Prêmio Nobel da Paz e que ocupa a presidência dos Estados Unidos.

Por Atilio A. Boron (*), cientista político argentino – traduzido do jornal Página/12, edição de hoje, dia 17

O Estado Islâmico produziu uma lamentável inovação na forma da longa história do terrorismo. As execuções que serviam de exemplos de antes, cujas testemunhas diretas eram uns poucos, agora são transmitidas pela Internet em tempo real e seu horrendo impacto chega aos quatro cantos do planeta. Esta mudança não oculta o primitivismo do método, a decapitação. Porém recentemente apareceu uma nova forma de terrorismo, mais sutil que a tradicional e cujas vítimas se contam aos milhões: o terrorismo financeiro. Seu principal expoente não é o infame verdugo vestido de negro, mas um afro-descendente de suaves modos, laureado com um Prêmio Nobel da Paz e que ocupa a presidência dos Estados Unidos. Este indivíduo lançou uma furiosa ofensiva para conseguir a “mudança de regime” em Cuba e substituir o governo da revolução por um protetorado norte-americano. Para buscar esta finalidade apela para o terrorismo financeiro: não apenas manteve o ilegal, imoral e criminoso bloqueio contra Cuba, mas nos últimos meses redobrou sua patológica agressividade ao impor duríssimas sanções a bancos de terceiros países que participem de transações comerciais relacionadas com a ilha caribenha.

O objetivo deste empenho é dificultar a viabilidade econômica de Cuba e infringir um brutal castigo a toda uma coletividade para que se dobre ante seus verdugos. Não há aqui adaga nem cimitarra, mas o objetivo é o mesmo; as vítimas, muitas delas mortais, deste novo terrorismo, podem ser contadas aos milhares. Ratificando nos fatos que os Estados Unidos é um império, Washington fez da extra-territorialidade de sua legislação um poderoso instrumento de domínio. Aplicando as leis Torricelli e Helms-Burton, puniu o banco BNP Paribas com uma multa de 8 bilhões e 834 milhões de dólares por sua intermediação em transações realizadas pelos governos de Cuba, Sudão e Irã, caracterizados como “inimigos” e incluídos na lista de países que promovem, amparam ou protegem o “terrorismo”. Uma multa que, segundo os especialistas, é a mais elevada jamais imposta a um banco em toda a história do capitalismo.

Em razão desta descomunal punição, o BNP cancelou todas as suas operações com organismos e entidades cubanos, exemplo que, para prejuízo da ilha, foi rapidamente imitado por numerosas instituições bancárias de todo o mundo, aterrorizadas também elas diante desta nova demonstração de prepotência imperial que Obama exerce com uma impunidade que supera aquela da que faz gala o verdugo jihadista diante das câmeras. Um informe especial mostra que no período compreendido entre janeiro de 2009 e junho de 2014, isto é, antes da megamulta, Obama aplicou sanções a 36 entidades dos Estados Unidos e do resto do mundo, em valores que somam quase 2 bilhões e 600 milhões de dólares, pelo “delito de se relacionar com Cuba e outros países”.

Se o terrorismo financeiro de Obama tem eficácia é pela covardia dos governos que consentem a extra-territorialidade da legislação estadunidense. Tal é o caso da França, cujo presidente demonstrou carecer da mais elementar coragem política requerida para o cargo. Se arrastou para suplicar a Obama que intercedesse pelo BNP, a que este respondeu que se tratava dum assunto exclusivamente jurídico e que nada podia fazer a respeito. A mesma resposta que deu em relação à ofensiva dos fundos-abutre contra a economia argentina. Se François Hollande tivesse tido a milésima parte da valentia de seus compatriotas na Comuna de Paris teria respondido que a legislação aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos não tem vigência na França, assim como as leis francesas não têm vigência nos Estados Unidos. Mas a decomposição moral do socialismo francês já é irremediável. Isto é reconfirmado pela atitude de seu ministro das Finanças, Michel Sapin, que disse que a medida aplicada por Washington era “desproporcionada”, não que era ilegal, imoral e ilegítima, mas sim “desproporcionada”. O BNP se declarou culpado diante das acusações criminosas: falsificar informes financeiros e conspirar contra os EUA; admitiu a proibição de efetuar transações em dólares por um ano e obedeceu a ordem de despedir 13 empregados do banco por sua intervenção nas transações objeto da multa. Em outras palavras: a Casa Branca tem o poder de cometer todas estas tropelias que violam de A a Z a legalidade internacional e depois se declara impotente para conceder o indulto que faria justiça aos três lutadores anti-terroristas cubanos que continuam presos nas masmorras imperiais.

* Atilio Boron é do Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.

Tradução: Jadson Oliveira

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