PAULO NOGUEIRA: COMO MARINA MUDA A DISPUTA

Marina Silva
Marina Silva inaugura uma nova etapa na campanha eleitoral deste ano (Foto: Correio do Brasil)
Meio século depois, outra vez confrontados com a falta de votos de seus candidatos favoritos, os conservadores podem repetir com Marina o que fizeram com Jânio: depositar as fichas na esperança de controlá-la, em caso de êxito.

Por Paulo Nogueira, de Londres - reproduzido do jornal digital Correio do Brasil, de 16/08/2014

Aos poucos vai ficando mais claro o impacto de Marina nas eleições.

É uma mudança enorme por uma razão básica: sai um candidato fraco e entra um candidato forte.

Perde Dilma e perde Aécio.

A questão é: qual o tamanho da perda de cada um?

Comecemos por Aécio. Ele corre o risco de ser reduzido a um inexpressivo segundo plano diante de Dilma e de Marina.

Aécio pode ocupar o espaço que era de Eduardo Campos: um candidato de baixa relevância.

Se nas primeiras pesquisas Marina aparecer na sua frente, Aécio estará enrascado.

A tendência será uma debandada das forças conservadoras em direção de Marina.

Fora isso, é previsível que, pela sua história, Marina seja mais agressiva que Campos nas críticas a Aécio e ao PSDB.

Aécio, até aqui, era o anti-Dilma. Este papel vai caber a Marina, e Aécio tenderá ser um personagem sem sentido no novo enredo.

Marina não é o nome dos sonhos dos conservadores, mas a prioridade um, dois e três deles é tirar o PT do poder.

No passado, Jânio Quadros viveu uma situação parecida. Os conservadores de então, agrupados na UDN, viram em Jânio – que nada tinha a ver com eles – a chance de vencer as eleições de 1961.

Venceram, mas ao preço de uma terrível instabilidade política por conta dos choques de Jânio com as forças que o levaram ao Planalto.

Durou sete meses a aventura, ao fim dos quais Jânio renunciou, o que abriria as portas para o golpe militar de 1964.

Meio século depois, outra vez confrontados com a falta de votos de seus candidatos favoritos, os conservadores podem repetir com Marina o que fizeram com Jânio: depositar as fichas na esperança de controlá-la, em caso de êxito.

Para Dilma as coisas se complicaram também. Não eram pequenas as chances de ela vencer no primeiro turno: Aécio estava estagnado, e assolado pelo aeroporto, e Campos não vingava.

Caso Marina force um segundo turno, Dilma enfrentará uma situação diferente da de 2010.

Ela foi para o segundo turno com o Rei da Rejeição, Serra. Muitos dos 20 milhões de eleitores de Marina optaram rapidamente por Dilma contra Serra.

Na hipótese de Dilma e Marina irem para o segundo turno, os votos de Aécio tenderão a desaguar em Marina.

Entra numa terceira fase a jornada de Dilma rumo à reeleição.


A primeira, em que tudo parecia fácil, terminou nos protestos de junho de 2013.

A segunda foi marcada por asperezas antes imprevistas – mas também por adversários pouco ameaçadores.

A terceira, e mais difícil, é esta.

Marina vai ser um adversário duro. É mulher, tem a aparência de quem é do povo – e reunirá em torno de seu nome todas as forças antipetistas. É algo que nem Aécio e nem Campos poderiam fazer.

Dilma é, ainda, favorita. Mas menos favorita do que já foi.
 
Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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