COLÔMBIA: LÍDER DAS FARC NÃO ACREDITA QUE SE ASSINE A PAZ ESTE ANO




(Foto: Nodal)
“(Continuarei) trabalhando pela construção do sonho que nos conduziu às armas. Uma Colômbia em paz, democrática, soberana, em desenvolvimento, mas com justiça social”.


Do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe, de 12/08/2014


O máximo chefe das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Rodrigo Londoño, codinome Timochenko, descartou que a guerrilha firme a paz com o governo neste ano, tal como aspira o presidente Juan Manuel Santos.


Numa entrevista, Timochenko indicou que o processo atrasará devido à complexidade dos elementos em torno do debate sobre o quarto ponto da agenda de paz, que começa nesta terça-feira em Havana e que aborda o reconhecimento e a reparação às vítimas do conflito.


Deste ponto faz parte a constituição duma Comissão Histórica do Conflito, composta por seis experts de cada parte e dois relatores que terão como missão ajudar num prazo de quatro meses a estabelecer as causas e fatores que contribuíram para a duração da guerra e o impacto sobre a população.


“A Comissão Histórica se encarregará de elaborar a reconstrução do conflito num prazo que está estabelecido em quatro meses a partir de 21 de agosto (…) Assim que se levamos em conta isso, é fácil concluir que os prazos para este ano não dão”, analisou.


O líder guerrilheiro avaliou que ainda que “todos quiséssemos que as coisas andassem o mais rápido possível”, há que abordar os temas da agenda com “objetividade”, e lembrou que após o tema das vítimas ainda resta um último ponto das negociações referente ao fim das hostilidades entre as partes.


“Deve se ter em conta também que o tema da entrega das armas e a suspensão bilateral de fogo não vai ser simples”, advertiu Timochenko.


As FARC e o governo de Santos, que buscam uma paz negociada em Havana desde novembro de 2012, iniciam agora o debate sobre as mais de 6,5 milhões de vítimas da violência na Colômbia, que puseram como condição inegociável para alcançar a paz o perdão e a verdade.


“Haverá que explicar-lhes o que aconteceu, por que razão foram tratadas desse modo, e então deverão sair à luz os responsáveis por isso. As vítimas deverão ter uma explicação satisfatória sobre o que aconteceu, sejam quais forem as causas, e isso terá que ficar claro não somente para elas, mas para todos os colombianos”, asseverou o guerrilheiro.


Sobre a reparação às vítimas e a garantia de que não haja repetição, Timochenko disse confiar que o processo “seja capaz de produzir as mudanças institucionais necessárias” para que essas demandas se convertam em realidade e sublinhou que esta é uma tarefa que exigirá muito trabalho por parte das autoridades.


“Muitas coisas terão que ser transformadas na Colômbia para que possamos considerar a página virada”, declarou nesse sentido.


Ademais, criticou que o Executivo de Santos continue realizando ações militares contra as FARC sob o argumento de que “nada está acordado até que tudo esteja acordado”.


“Temos insistido na necessidade de estabelecer um cessar-fogo bilateral, coisa que o governo Santos rechaça prontamente”, denunciou o líder guerrilheiro.


Perguntado sobre se aceitariam incluir na mesa de negociações a guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional), que mantém atualmente diálogos exploratórios com o governo colombiano, Timochenko explicou que o avançado de seu processo de paz faz inconveniente a união.


“Nem podemos nós considerar que devam se vincular assim à mesa de Havana, quando já há acordos parciais sobre três pontos”, observou, em referência aos pré-acordos sobre a posse da terra, participação política e drogas ilícitas.


Não obstante, sublinhou que o ELN “tem muito o que dizer e aportar para a construção da paz”, e destacou a “plena” vontade das FARC em colaborar com essa guerrilha para que deixe as armas.


“Creio que eles merecem todo o respeito como organização revolucionária. Confiamos que adotarão as decisões mais benéficas para o país”, indicou.


O líder das FARC que assegurou que a intenção da guerrilha é não se levantar da mesa em Havana “até conseguir um acordo definitivo”, disse que, uma vez finalizado o processo de paz, se integraria à vida civil através da política.


“(Continuarei) trabalhando pela construção do sonho que nos conduziu às armas. Uma Colômbia em paz, democrática, soberana, em desenvolvimento, mas com justiça social. Isso significa necessariamente fazer política, na legalidade, ao fim e ao cabo foi isso a razão de nossa vida”, destacou Timochenko.

Tradução: Jadson Oliveira

Comentários