REPRESSÃO NO RIO DE JANEIRO: O CARÁTER PEDAGÓGICO DAS PRISÕES DOS MANIFESTANTES



Ato na OAB reuniu centenas de ativistas e militantes políticos no Rio de Janeiro. (Foto: Vitor Vogel)
Em junho de 2013, quando tudo começou, esses ativistas expulsavam das passeatas com ofensas e agressões os membros de partidos e organizações de esquerda. Hoje, são os membros de partidos e organizações de esquerda que saem em defesa dos ativistas, seja no âmbito social, seja no institucional.

Por Theófilo Rodrigues (cientista político), no sítio web Conexão Cultura Política, de 22/07/2014

Como o título pode parecer enganoso, aviso de antemão aos leitores que este não é um texto de crítica às manifestações que vem ocorrendo por todo o país desde junho do ano passado. É, antes de tudo, um texto em defesa dos manifestantes presos, da liberdade de manifestação, da liberdade de expressão e da liberdade de organização política. Evito assim que desavisados decepcionem-se ao fim da leitura.

Como se sabe, no sábado, dia 12 de julho, véspera da final da Copa do Mundo, o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, decidiu prender 26 ativistas que nos últimos meses vinham participando de manifestações públicas. As prisões foram seguidas por matérias e mais matérias em jornais e canais de televisão que legitimavam a ação do juiz.

No dia seguinte, 13 de julho, o senador Lindberg Farias do PT, o deputado estadual Marcelo Freixo do PSOL e o sociólogo Luiz Eduardo Soares entre outros emitiram a primeira nota pública em defesa dos manifestantes.

Em outra raia de atuação, no dia 17 de julho, deputados federais de alguns partidos tradicionalmente ligados aos movimentos sociais como Jandira Feghali (PCdoB), Chico Alencar (PSOL), Jean Wyllys (PSOL) e Ivan Valente (PSOL) entraram com uma ação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o magistrado.

A pressão pela liberdade dos manifestantes cresceu a ponto de no dia 22 de julho um grande ato público realizado na sede da OAB no Rio de Janeiro ter reunido tradicionais lideranças de PT, PCdoB, PSOL, UNE, MST, CUT e tantos outros para reivindicar em uníssono a liberdade de todos os presos.

Ainda no dia 22 de julho o jornal O Globo estampou matéria de página inteira com insinuações de que os próximos investigados serão os dirigentes de sindicatos como Sindsprev, SEPE e Sindpetro. De acordo com o jornal, os sindicatos são suspeitos do gravíssimo crime de terem oferecido “quentinhas para índios que participavam de uma assembleia” sobre a Aldeia Maracanã. O furo de reportagem do jornal O Globo diz ainda que “além das refeições, os financiadores teriam fornecido os materiais para confecção de cartazes”.

No mesmo dia o presidente do PSDB, Aécio Neves, apresentou nota pública do partido em defesa das prisões que prontamente foi apoiada por dirigentes partidários do DEM e do PMDB.

Mas qual o caráter pedagógico de tudo isso?

Essas prisões precisam ser repudiadas calorosamente por todos que acreditam na democracia, ou que ao menos tentam construí-la. Mas a impressão que fica é a de que quem mais pode aprender com tudo isso são os próprios ativistas presos e seus demais companheiros. Em junho de 2013, quando tudo começou, esses ativistas expulsavam das passeatas com ofensas e agressões os membros de partidos e organizações de esquerda. Hoje, são os membros de partidos e organizações de esquerda que saem em defesa dos ativistas, seja no âmbito social, seja no institucional.

A luta política é contraditória desde sempre. Essa contradição está presente até mesmo dentro das organizações. Contudo, faz-se necessário perceber que dentro da contradição existem concepções de mundo e campos de luta distintos em permanente disputa. É preciso saber que a luta de classes não nasceu no ABC paulista em 1979 e nem em junho de 2013.

A exacerbação desse conflito social evidenciada pela prisão dos ativistas talvez tenha mostrado para eles quem são os seus possíveis aliados e quem são os seus claros adversários. E esse talvez tenha sido o maior caráter pedagógico dessas prisões.

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