O papel de comunicador passou a ser o de distrair as atenções. Marcos ocupava a mídia enquanto o movimento construía sua autonomia (Foto: WikiCommons/Opera Mundi) |
O personagem, uma das ferramentas de comunicação
dos zapatistas desde o levante de 1994, evidenciou a invisibilidade dada à
população indígena mexicana
Por Júlio
Delmanto, de São Paulo, no portal Opera
Mundi, de 07/06/2014
“Queria
pedir paciência, tolerância e compreensão às companheiras e companheiros, porque
essas serão minhas últimas palavras em público antes de deixar de existir”. Já
era madrugada de 25 de maio quando os milhares de milicianos, insurgentes e
bases de apoio do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), perfilados
e encapuzados no centro do caracol de La Realidad, puderam ouvir o discurso do
Subcomandante Insurgente Marcos. Marcos falou sobre a morte do zapatista
Galeano, assassinado durante ataques paramilitares no dia 2 de maio.
O que ninguém esperava é que a cerimônia de homenagem a mais um combatente que cai desde que o EZLN declarou guerra ao Estado mexicano, em 1º de janeiro de 1994, fosse marcar também a saída de cena de seu porta-voz e principal figura pública. A substituição pelo indígena Moisés, também Subcomandante, representa mais do que o fim de um “personagem”, como o próprio Marcos se define.
Ela é resultado de uma série de transformações pelas quais os neozapatistas passaram desde 17 de novembro de 1983, data em que o movimento foi fundado na Selva Lacandona de Chiapas. Na época, contavam com apenas seis membros – cinco homens e uma mulher, sendo três indígenas e três mestiços – como Marcos, que só chegaria à Selva em 1984.
Segundo ele, os anos transformaram o EZLN de forma múltipla e complexa, e a maioria dos analistas pecou ao se concentrar em apenas um aspecto da mudança: o geracional. Parte dos que começam a assumir o comando do movimento e de seu exército sequer tinham nascido quando ele foi fundado, mas haveria ainda outros aspectos nessa evolução. “O de classe, da origem de classe média ilustrada aos camponeses; o de raça, da direção mestiça à direção plenamente indígena; e o mais importante, o de pensamento, do vanguardismo revolucionário ao mandar obedecendo, da tomada do poder ‘de cima’ à criação do poder de baixo”, apontou o agora ex- porta-voz dos zapatistas.
Para ler mais no Opera Mundi:
Comentários