Aécio Neves (no centro) tem um dos planos econômicos mais conservadores já apresentados aos brasileiros nas últimas décadas (Foto: Correio do Brasil) |
Neste domingo o povo europeu foi para as urnas. Diversos países realizaram eleições para escolher seus representantes para o Parlamento Europeu. Além disso, a Ucrânia elegeu seu novo presidente. O resultado foi um verdadeiro balde de água fria para os cosmopolitas e internacionalistas de todo o mundo. A vitória da direita anti-imigrantes foi generalizada no Parlamento Europeu, enquanto um bilionário assumiu a presidência da Ucrânia. Também no domingo ocorreram eleições municipais na Venezuela onde candidatas antichavistas venceram. Mas o que tudo isso significa para o Brasil?
Na França o partido da extrema-direita, Frente Nacional, foi o maior vitorioso da eleição para o Parlamento Europeu que ocorreu neste domingo. O partido de Jean Marie Le Pen e de sua filha Marine Le Pen alcançou 25% dos votos dos franceses ampliando a voz da xenofobia e do racismo no país. Para os desavisados, Le Pen é aquele que disse em recente comício que a solução para o fim da imigração na Europa seria o mortal vírus africano Ebola. “O ‘Sr. Ébola’ é capaz de resolver tudo isso em três meses”, afirmou um sombrio Le Pen. Gente finíssima. O partido conservador UMP ficou em segundo lugar com 20% dos votos, enquanto o Partido Socialista, do presidente François Hollande, em terceiro com 14%. O que mais impressionou foi o alto nível de abstenção que passou de 57%.
Na Alemanha, o partido conservador CDU, de Angela Merkel, venceu a eleição para o Parlamento Europeu mais uma vez. Contudo, o dado mais relevante está no fato de pela primeira vez, o partido neonazista alemão NPD ter eleito um representante para o Parlamento Europeu.
Na Inglaterra o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), de extrema direita, liderado por Nigel Farage e que se posiciona abertamente contra a imigração, também foi o vitorioso na eleição para o Parlamento Europeu. Isso num país que já é dirigido pelo Partido Conservador do primeiro-ministro David Cameron. Já na Dinamarca foi o anti-imigrantes Partido do Povo Dinamarquês o grande vitorioso.
Na Ucrânia o magnata Petro Poroshenko, conhecido como o “rei do chocolate”, acabou de vencer a eleição presidencial do país. Em sua primeira declaração pública disse que irá governar o país como se fosse sua empresa, a Roshen. O que isso quer dizer ainda não se sabe.
Do lado de cá do Atlântico a Venezuela realizou também neste domingo eleições em dois municípios. Candidatas da oposição antichavista, Patricia de Ceballos e Rosa de Scarano conquistaram as prefeituras de San Cristóbal, capital do estado de Táchira, e de San Diego, em Carabobo, respectivamente. Patricia de Ceballos ganhou a prefeitura de San Cristóbal com 73,4% dos votos, enquanto Rosa de Scarano conquistou 87,8% dos votos em San Diego.
O Brasil não parece ser um caso diferente do que vem ocorrendo no resto do mundo. Não que a direita esteja ganhando eleições por aqui nos últimos anos. Todavia, suas ideias vêm ocupando certo espaço no imaginário social e político.
O principal candidato do campo conservador para as eleições que ocorrerão em outubro deste ano, Aécio Neves, do PSDB, afirma publicamente que está “preparado para medidas impopulares”. Seu principal consultor econômico, Armínio Fraga, em entrevista para o jornal Estado de S.Paulo mencionou quais serão as balizas do programa econômico do PSDB: (1) para reduzir os custos do governo será necessário baixar o salário mínimo que está muito alto; (2) para baixar a inflação terá que aumentar a taxa de desemprego. Tudo isso sob a elegante insígnia de “choque de gestão”.
No entanto, não é apenas na dimensão eleitoral que a direita vem arregaçando suas mangas. No espectro simbólico e cultural o preconceito truculento e reacionário também vem crescendo. Após alguns comentários recheados de ódio feitos pela comentarista do Jornal do SBT, Rachel Sheherazade, uma série de crimes de vingança e linchamento começaram a ocorrer por todo o país, como o caso da jovem que foi agredida até a morte no interior de São Paulo. Papel tenebroso televisionado absurdamente por uma concessão pública e que encontra sócios em grande parte dos meios de comunicação.
O Brasil que na luz do dia vem retirando milhares de pessoas da condição da pobreza, desenvolvendo suas forças produtivas, redistribuindo renda e avançando nas relações sociais de produção não pode perder para o Brasil da minoria obscura que quer o ódio elitista e a volta do passado. O Brasil não merece tal retrocesso. Mas isso depende da nossa capacidade criativa de construir e vocalizar um projeto coletivo de futuro, feito de baixo para cima e alicerçado na solidariedade. Como diria Martin Luther King, “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons”.
Theófilo Rodrigues é mestre em Ciência Política pela UFF e doutorando em Ciências Sociais pela PUC-Rio.
Comentários