(Foto: Felipe Bianchi) |
Os
conflitos sociais na Venezuela e a cobertura da mídia internacional foram temas
de debate na noite do sábado (17). A atividade, parte da programação do IV
Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, contou com as presenças de João
Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST); Breno Altman, diretor editorial do Opera Mundi; e Igor Fuser, professor
da Universidade Federal do ABC (UFABC), que defenderam os avanços sociais
obtidos no país desde a primeira eleição de Hugo Chávez e criticaram a campanha
midiática permanente contra este processo.
Por Felipe Bianchi, no sítio web do Centro de Estudos da Mídia Alternativa
Barão de Itararé, de 19/05/2014
Segundo Fuser, não se trata de uma mera
disputa entre o campo chavista e as forças conservadoras, mas de uma luta
internacional e, especialmente, latino-americana. “Não apenas por uma
identidade de valores, mas porque há uma inter-relação muito grande entre o que
ocorre em cada país”, explica. “Nos últimos 15 anos, conformou-se um amplo
campo progressista no continente e, mesmo com todas as críticas que podemos
ter, é inegável que ocorre uma priorização dos interesses das maiorias
desfavorecidas e a busca da autonomia política, econômica e integracionista,
expressos na Unasul e no Celac, por exemplo”.
Ele prossegue argumentando que, no contexto
do continente, os atores transcendem suas próprias fronteiras. “Os avanços e as
derrotas do campo progressista em cada país”, para Fuser, “fortalecem ou
debilitam o campo progressista dos outros países”. Não é por acaso, sublinha,
que pouco tempo depois do início da crise venezuelana proprietários de jornais
dos Diarios de Las Américas (mais de 50 veículos) lançam campanha de apoio à
oposição venezuelana. Cada um desses veículos se comprometem a atacar
diariamente o governo de Maduro.
“Não é jornalismo, não há cobertura de
acontecimentos noticiáveis, com critérios definidos; é campanha”, denuncia o
professor. “O Estado de S.
Paulo, a Globo e seus congêneres fazem parte deste time. Não é
apenas jornalismo conservador, é campanha com objetivos, prazos e métodos. É
isso que vemos na imprensa brasileira e internacional”.
Uma das razões para tal articulação, na ótica
de Fuser, remete à ligação umbilical da grande imprensa brasileira com os
interesses dos Estados Unidos. “São agentes de seus interesses”, coloca, e
questiona: “Em qual questão, nos últimos 10, 20 ou 50 anos, a imprensa
brasileira adotou posição conflitante em relação a Washington?”.
O temor das famílias que monopolizam a mídia
no país seria de que, se essas experiências revolucionárias dão certo e se
consolidam ainda mais na Venezuela, transformariam-se em exemplo a ser seguido
pelo Brasil.
“É um processo cheio de solavancos, tem
imperfeições, contradições, mas a construção que está sendo feita no imaginário
em relação à Venezuela é totalmente falsa”, dispara. “Mídia alternativa e
ativistas digitais têm de desconstruir as falsas narrativas sobre a Venezuela e
produzir informação que reflita a realidade do país para os maiores
interessados no processo: o povo”.
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