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Quem hoje,
que tenha mais de 40 anos, não haverá de se lembrar das vozes
graves e empostadas de Cid Moreira e Sérgio Chapelin informando
diariamente, no “Jornal Nacional” da Globo, os “confrontos” entre os subversivos
e as forças de segurança do regime, que resultavam sempre, vê-se, na morte dos terroristas.
Por José
Benedito Pires Trindade, no Correio da Cidadania, de 11/04/2014
(enviado pelo companheiro Otto Filgueiras)
É tudo sempre igual. É tudo muito antigo. É tudo tão
aterrador.
Na captura de índios para a escravidão, nos
primeiros séculos da Colônia, havia os que fugissem das bandeiras, os que
resistissem, os que se rebelassem quando cativos ou os que morressem de
trabalhar, pois, como se sabe, desde aquela época, índio é bicho preguiçoso,
vagabundo incorrigível, inútil e invasor de terras.
Mesmo depois que Santa Madre concluiu que os índios
tinham alma, eles continuaram caçados e massacrados, e genocidas como Borba
Gato e Raposo Tavares continuam sendo celebrados, especialmente pelos
paulistas, como heróis do extermínio, porque teriam feito avançar nossas
fronteiras.
De uma só feita, Raposo Tavares preou 200 mil
índios, no território que é hoje o Paraná. Milhares morreram na captura e
outros tantos na condução até o mercado paulista. Efeitos colaterais que os
bandeirantes já previam, daí a necessidade de apresar grandes quantidades, para
repor as perdas.
(A mesma preocupação de Alberto Speer, ministro de
Armamento de Hitler, constantemente pressionando Hitler, Himmler e Heydrich por
mais prisioneiros para as fábricas de armas do Reich, já que a mortalidade
entre esses escravos - basicamente judeus, comunistas e eslavos - era
muito grande).
A indolência dos índios foi substituída pela
escravidão dos negros africanos. A Santa Madre, que deu alma imortal aos
índios, mas não condenou sua escravização, também concedeu o benefício da
eternidade à alma branca dos negros, e não se opôs à senzala e ao pelourinho.
Em relação ao quase extermínio dos índios e à
ignomínia da escravidão dos negros, tudo o que se disse, se desculpou,
discursou e chorou é uma gota em um oceano incomensurável, sem extensão ou
profundidade, de dor e terror.
Por mais que a história do Brasil e de seu povo se
estenda pelos séculos e séculos, nada purgará a nossa crueldade, omissão e
conivência. Mesmo porque somos reincidentes. Diariamente, vemos repetir, com
requintada perfeição, os mesmos crimes. E diante deles, reprisa-se o
comportamento omisso, conivente, abúlico, indiferente, qual seja o adjetivo de
escolha.
Qual foi a reação do país, das tais autoridades
constituídas no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, no Ministério Público
e da malfada e nunca suficientemente deplorada mídia, às revelações medonhas do
coronel Paulo Manhães sobre as torturas, assassinatos, esquartejamentos e
sumiço de restos mortais de presos políticos?
A mesma reação indiferente, logo cúmplice, à
informação, largamente difundida, de que no processo de “conquista” do Complexo
da Maré, Rio de Janeiro, em 15 dias, 16 bandidos foram mortos “em
confronto” com o Exército e o BOPE (PM). Do lado das “forças pacificadoras”,
sequer um fio de cabelo deslocado.
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