CUBA: A CASCAVEL E O GATO, POR LEONARDO PADURA

Há anos os cubanos formularam uma máxima para descrever sua relação de trabalho com o Estado: você faz de conta que me paga e eu faço de conta que trabalho


Por Leonardo Padura (foto - renomado escritor cubano), no portal Carta Maior, de 25/04/2014

Há anos os cubanos formularam uma máxima para descrever sua relação de trabalho com o Estado: você (o Estado) faz de conta que me paga e eu (o cidadão) faço de conta que trabalho.

De forma tão sintética e precisa se resume a reciprocidade dos trabalhadores com os salários irrisórios, totalmente insuficientes, que recebem por seus postos de operários, técnicos e profissionais dependentes do principal empregador existente no país, o Estado.

Entretanto, além disso, o senso comum reflete algo mais profundo e mais grave do que uma questão de sobrevivência ou de defesa. Seus resultados repercutem em assuntos tão vitais para a economia nacional como a baixa produtividade e a ineficiência no trabalho, o êxodo de determinados setores e do país, e a baixa qualidade na produção e dos serviços, até a corrupção e o “desvio” de recursos, já que muitos podem levar alguma coisa (tempo, dinheiro, materiais) de seus centros de trabalho e melhorar, assim, suas condições de vida.

Porém, seguindo a lógica das consequências do enunciado, seria preciso ir um pouco mais além, pois as posições atribuídas aos empregados e ao Estado são o reflexo de uma forma de viver dos primeiros e de governar do segundo, na qual parece ter acontecido uma quebra da comunicação em um e em outro sentido. Como se jogassem uma partida de futebol com duas bolas... ou com nenhuma. 

Essa ruptura de comunicação, ou de falta de códigos de entendimento, não significa necessariamente falta de controle. Pelo contrário: o Estado continua sendo o todo poderoso enquanto compõe uma sólida trindade com o governo e o partido único e, assim, tem em suas mãos quase todas as decisões – não somente as macro, mas inclusive muitas que afetam a vida pessoal dos indivíduos, entre elas sua capacidade econômica de consumo e seu nível de vida.


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