PERU: UMA NOVA LEI QUE DÁ LICENÇA PARA MATAR



O presidente peruano, Ollanta Humala, foi eleito com bandeiras de esquerda, mas agora respalda leis do fujimorismo (Foto: AFP/Página/12)
Policiais que provoquem mortes ocorridas em serviço estão isentos de responsabilidade penal: a lei foi aprovada no Congresso Nacional por iniciativa da oposição fujimorista (do ex-ditador Alberto Fujimori) e apoiada pelos governistas. Os organismos de direitos humanos e a Defensoria do Povo rechaçaram a nova legislação.

Por Carlos Noriega, de Lima, no jornal argentino Página/12, edição de 16/01/2014

Com licença para matar. Desta forma qualificaram os organismos de direitos humanos e diversos juristas a lei promulgada esta semana (semana passada) pelo governo, que exime de responsabilidade penal  policiais e militares que provoquem lesões ou mortes ocorridas durante o exercício da função. A Defensoria do Povo também rechaçou a lei. Enquanto a oposição de direita, encabeçada pelo fujimorismo, assumiu o protagonismo em defesa da questionada lei, o ministro do Interior, Walter Albán, surpreendeu ao criticá-la, ainda que logo depois terminou justificando-a. A nova legislação foi aprovada no Congresso por iniciativa da bancada fujimorista e promulgada esta semana (semana passada) pelo presidente Ollanta Humala. Sua promulgação se dá num contexto em que crescem as reclamações contra o governo pelo incremento da delinquência e da insegurança cidadã, mas esta lei abre as portas também para endurecer a repressão contra as mobilizações sociais.

Nos dois anos e meio do atual governo são em torno de 30 as pessoas mortas por causa da repressão policial e militar durante diversos protestos sociais. Há investigações judiciais abertas em decorrência destes casos, porém nenhuma condenação. Se teme que com a nova lei tais mortes aumentem e a impunidade se institucionalize. De imediato, 139 policiais e militares denunciados por causar lesões ou a morte de manifestantes durante mobilizações sociais recorreriam à nova legislação para frustrar as investigações judiciais e ficar livres de toda responsabilidade.

A nova lei assinala que “está isento de responsabilidade penal o pessoal das forças armadas e da Polícia Nacional que, em cumprimento de seu dever e no uso de suas armas ou outro meio de defesa, causa lesões ou morte”. Esta lei elimina a expressão “na forma regulamentar” ao referir-se ao uso das armas pelas forças de segurança, vigente na legislação anterior, que já era considerada bastante permissiva com a forma de agir de policiais e militares.

Continua em espanhol:

La eliminación en la nueva ley de la referencia al uso de las armas “en forma reglamentaria” fue criticada por el ministro del Interior, Walter Albán. “Esta modificación no era necesaria ni conveniente”, declaró el ministro Albán, quien admitió que la ley dictada por el gobierno al cual él pertenece “puede dar pie a pensar que habría total impunidad”. Por esas declaraciones, la oposición de derecha pidió su renuncia. Albán matizó luego sus críticas a la ley: “Hay que ser muy claros en decir que este ejercicio (el uso de las armas por las fuerzas de seguridad) no puede ser ilimitado; cualquier tipo de exceso tendrá que ser sancionado”. A pesar de expresar su desacuerdo con esta ley, el ministro del Interior justificó su promulgación señalando que “es una ley del Congreso” y que el Ejecutivo no la observó para que no se piense que se está limitando la función de la policía.

“Con esta ley, que elimina la referencia al uso de las armas en forma reglamentaria, policías y militares quedan en libertad de disparar sin respetar los protocolos sobre el uso reglamentario de sus armas. Se abre una puerta inmensa para que los excesos que las fuerzas de seguridad puedan cometer usando las armas queden en la impunidad. El espíritu de la ley es que esos excesos queden impunes”, declaró a Página/12 Carlos Rivera, abogado especializado en derechos humanos del Instituto de Defensa Legal (IDL).

“Es insólito que se esté dando más permisividad para el uso indiscriminado de la fuerza por parte de la policía y las fuerzas armadas. Con esta norma el gobierno ha pasado a aplicar, como política nacional, el uso excesivo de la fuerza para controlar los conflictos sociales”, señaló Rocío Silva Santisteban, secretaria ejecutiva de la Coordinadora Nacional de Derechos Humanos.

La Defensoría del Pueblo calificó esta ley como “contraproducente”. “La norma debilita la protección del derecho a la vida y a la integridad personal de la ciudadanía (...) pone en riesgo la vida de cualquier persona (...) contraviene parámetros internacionales”, señaló la Defensoría del Pueblo en un comunicado. “Con esta ley, ahora ningún policía ni militar podrán ser juzgados si matan o hieren a terceros”, advierte el decano del Colegio de Abogados de Lima, Mario Amoretti. El presidente Humala no se ha pronunciado sobre las duras críticas a la ley que firmó esta semana (semana passada).

Tradução: Jadson Oliveira

Comentários