(VERDADE E JUSTIÇA/BRASIL) EMILIANO: “SOMOS A VOZ DE NOSSOS MORTOS, ASSASSINADOS E TORTURADOS”



Jornalista Emiliano José (Foto: Internet)
Do blog Bahia de Fato, de Oldack Miranda, postagem de 18/12/2012
“Não passamos por isso impunemente. Não queremos esquecer. Não há jeito de esquecer. Impossível esquecer o que aconteceu a cada um de nós e com centenas de companheiros que foram assassinados covardemente, sempre pela violência da tortura. A ditadura prendia e torturava, prendia e matava. Primeiro, torturava e depois fazia perguntas. Assim, há centenas de companheiros mortos, mulheres estupradas, crianças violentadas. Recentemente, veio à tona o caso de Inês Etiene, sobrevivente única da Casa da Morte de Petrópolis. Ela foi estuprada, centenas de vezes, fizeram dela um trapo humano. Como sobrevivente, pôde denunciar a existência da Casa da Morte. Saiu agora o livro “Seu Amigo Esteve Aqui” narrando essa história macabra. Pois, recentemente, ela foi novamente atacada em sua casa e ferida gravemente.”
O jornalista, escritor, professor universitário de comunicação aposentado e suplente de deputado federal Emiliano José (PT) prestou depoimento à Comissão Estadual da Verdade (04/12/2013). Coube ao advogado Jackson Azevedo entrevistar o depoente: “Eu me sinto honrado por conduzir o depoimento de Emiliano José, símbolo de político, homem público sério - que neste país escasseia. Ele tem sido merecedor da admiração de todos os que o conhecem. Com seu depoimento ele presta relevante serviço ao país, à causa dos direitos humanos, à memória e verdade”.

(...)

EMILIANO JOSÉ NOMEIA TORTURADORES – “Ouvi a jornalista Mariluce Moura hoje (04/12/2013) com muita atenção. Ontem (03/12/2013) ouvi Teodomiro Romeiro dos Santos. Nós somos a voz de nossos mortos, assassinados e torturados. Não somo apenas cada um de nós. Somos a voz dos que plantaram sonhos. Mariluce Moura passou a viver um tormento em 1973, registrou com emoção a dor de Tessa, sua filha, que nunca teve a chance de colocar uma flor no túmulo de seu pai, Gildo Macedo Lacerda, cujo corpo nunca apareceu. Hoje, é professora de filosofia e autora de um belo e sofrido texto, que leu chorando, em vídeo. Essas dores nunca se dissiparam e não se dissiparão. Ontem (03) mesmo fui ao Quartel do Barbalho com Teodomiro Romeiro dos Santos, fazer umas filmagens para um documentário. Nunca tinha antes visto Teodomiro derramar uma lágrima. E eu o vi carregado numa maca quase morto de tanta tortura. Pois ontem vi Teodomiro tremendo e chorando, 40 anos depois de tudo”.

“Vejam o que aconteceu comigo. Passados tantos anos, um ex-oficial da PM, hoje pastor Átila Brandão, da Igreja Batista Caminho das Árvores, presta queixa crime contra mim, vai à Justiça e pede 2 milhões de indenização, por “danos morais”. O que fiz? Uma reportagem sobre as torturas sofridas pelo professor Renato Afonso Carvalho, em 1971, no Quartel dos Dendezeiros. E quem era o torturador? O ex-oficial da PM Átila Brandão. Ainda hoje tenho que enfrentar dois processos movidos por uma pessoa acusada de ter torturado um preso político, com testemunhas e fontes vivas. Tive a ventura de ser defendido pelo presidente da OAB/Bahia,  Luiz Viana Queiróz e pelo advogado Jerônimo Mesquita. Ou seja, o passado nos revisita”.

Clicar aqui para ler mais do depoimento de Emiliano e de outros torturados por agentes da ditadura, durante audiência pública da Comissão Estadual da Verdade, em Salvador/Bahia, nos dias 3 e 4/dezembro.

Comentários