INDÍGENAS E JOVENS NAS RUAS DE SP PELA DEMARCAÇÃO DE TERRAS



A polícia acompanhou tudo de perto, mas não houve repressão (no fundo, ilustração luminosa no prédio da Fiesp/Federação das Indústrias) (Fotos: Jadson Oliveira)
Na faixa: "contra as PECs 215 e 237" e pelo "fim do genocídio"
O movimento é nacional e a reivindicação básica é a não aprovação da PEC 215, proposta no Congresso Nacional pelos ruralistas, que retira do governo federal a autonomia para demarcar as terras indígenas, conforme previsto na Constituição de 1988, e transfere tal atribuição ao Congresso.

De São Paulo (SP) – Cerca de 1.500 pessoas – parte indígenas de várias etnias e a maioria jovens  que apoiam a causa – desfilaram ontem, quarta-feira, dia 2, no final da tarde e início da noite, na Avenida Paulista, no centro novo da capital paulista, para defender o direito dos povos originários a suas terras, conforme garante a chamada Constituição Cidadã de 1988.

A questão central do movimento é impedir a aprovação do Projeto de Emenda Constitucional número 215 (PEC 215), que propõe transferir do governo federal para o Congresso Nacional a atribuição de demarcar terras indígenas. A proposta é de autoria da chamada bancada ruralista na sua sanha de tomar terras dos indígenas para exploração do agronegócio e das mineradoras, pretensão que já deu origem a outras iniciativas parlamentares, além da PEC 215.
A própria presidenta Dilma Rousseff já declarou no twiter: "Meu governo é contra a PEC 215, que retira da União direito de demarcar as terras indígenas. Orientei a base do governo a votar contra". Acontece, porém, que a bancada dos ruralistas faz parte da chamada base do governo, que é uma mixórdia política/partidária: vai da centro-esquerda à ultra-direita (os ruralistas estão na ultra-direita).

Em panfleto distribuído durante a passeata, o deputado federal Ivan Valente, do PSOL-SP – é reprodução dum seu discurso na Câmara -, diz que “a sociedade brasileira precisa cobrar do governo Dilma uma postura clara em defesa dos direitos consagrados na Constituição Federal. É inaceitável que o governo continue refém dos ruralistas no Congresso Nacional, aceitando chantagens ou negociando direitos indígenas como moeda de troca para conseguir apoio para aprovação de projetos de seu interesse”.

“Gritos de guerra” na Avenida Paulista

Então, os indígenas vão para as ruas defender seus direitos, em companhia de movimentos sociais que apoiam sua justa causa. Como no próximo sábado, dia 5, se comemoram os 25 anos de promulgação da Constituição, eles programaram uma série de manifestações, nacionalmente, para este período de 30/setembro a 5/outubro.

Em São Paulo, os manifestantes exibiram seus protestos e reivindicações em faixas e cartazes, além de “gritos de guerra”, a partir do vão do Masp (Museu de Arte de SP), na Avenida Paulista, tradicional local para atos dos movimentos democráticos e populares. Desfilaram no sentido da Rua da Consolação, tomando totalmente uma das pistas. Em seguida retornaram pela outra pista e desceram pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio até o Monumento às Bandeiras, na região do Parque do Ibirapuera.
Pichação no Monumento às Bandeiras (Do site G1/globo.com - Foto: Fábio Vieira/Fotoarena/Estadão Conteúdo)



"Bandeirantes assassinos" (Do site G1/globo.com - Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)





O monumento foi pichado com menções à famigerada PEC 215 e “bandeirantes assassinos”, além de manchado com tinta vermelha. Os bandeirantes, tidos na história oficial como heróis desbravadores do território brasileiro nos séculos 17 e 18, foram na verdade agentes do genocídio dos povos originários e hoje, muito naturalmente, são associados aos ruralistas – empresários do agronegócio e das minerações, fazendeiros, latifundiários (conforme vi em telejornais de ontem e hoje, as pichações estão sendo lavadas por ordem da prefeitura).

Os protestos foram acompanhados de perto pela Polícia Militar, mas, pelo menos até a descida pela Brigadeiro, não houve qualquer ato de violência.

Em Brasília e na Bahia

Como mencionei acima, as manifestações estão ocorrendo pelo país: uma das mais fortes foi em Brasília, onde, segundo noticiário que vi na TV, os manifestantes foram impedidos de entrar (a mídia hegemônica diz “invadir”) na Câmara dos Deputados. Mas, logo em seguida, uma comissão de indígenas foi recebida por parlamentares.

Já na Bahia, segundo matéria do jornal digital Correio do Brasil, “cerca de mil índios pataxós e tupinambás bloquearam nesta quarta-feira um trecho da BR-101, próximo à cidade de Itamaraju, perto do quilômetro (km) 794, no extremo sul da Bahia. A manifestação faz parte da semana de Mobilização Nacional Indígena, que reúne etnias de todo o país”.


GAPP – “NÓS SOMOS VOCÊS”

Estes aí na foto são o publicitário Alexandre Morgado e um dos seus companheiros do GAPP – Grupo de Apoio ao Protesto Popular. Num panfletinho bem ilustrado e instrutivo, eles informam: “Somos um grupo que pretende gerar uma onda positiva entre as manifestações, com dois principais objetivos: prestar primeiros socorros e apoiar a população (distribuindo recursos - como água, por exemplo – e impedindo o vandalismo).

Dão dicas para uma “boa manifestação”, como manter-se hidratado e bem alimentado, assim como instruções para casos de emergência. Segundo Alexandre, o grupo foi criado por ele e está organizado apenas em SP, tendo somente 15 voluntários que se revezam nos diversos protestos, sempre com o padrão das camisetas mostradas na foto. Seu endereço: www.facebook.com/gappbrasil .    

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