ORTEGA: “O MUNDO ENFRENTA UMA DITADURA DO CAPITALISMO GLOBAL”



Daniel Ortega: “Nós não somente fomos espionados, na verdade fomos invadidos pelas tropas norte-americanas (...) fomos obrigados a lutar contra a política invasora dos EUA" (Foto: Atualidade RT/Aporrea.org)

"O que nos resta é continuar lutando pela unidade latino-americana"; a região está conseguindo vencer o imenso poder do império, que quer ver uma América Latina dividida; por isso é que a única resposta que podemos dar é "a unidade".

Por Atualidade RT (Rússia Today/Hoje) – reproduzido do portal venezuelano Aporrea.org, de 29/07/2013

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, afirma que a espionagem a nível global dos Estados Unidos demonstra que nos encontramos diante duma prática que não é alheia à política estadunidense nem de seus serviços de inteligência. Assim, Ortega considera que "estamos diante dum fato de proporções totalmente impensáveis" para os que consideravam que "existia alguma ética no sistema estadunidense".

"Porém não há ética, e acredito que isto fica mais claro quando seus principais aliados na Europa foram espionados pelos EUA. Já não digamos nós (América Latina), nós não somente fomos espionados, na verdade fomos invadidos pelas tropas norte-americanas, fomos subjugados pelas tropas norte-americanas, fomos obrigados a lutar contra a política invasora dos EUA", diz Ortega.

O líder nicaraguense acrescentou que a região não tem a capacidade para freá-los, já que Washington — diz — tem a força para lançar suas aventuras militares, "mas os latino-americanos e caribenhos, sim, temos a autoridade, a força e a vontade política de nos unir".

"E, ao nos unir, levar em conta que temos em nossa frente um Estado – os Estados Unidos da América do Norte -, temos aqui mesmo na vizinhança, que  está nos espionando todos os dias e que está espionando seus próprios cidadãos."

O caso Snowden

Indagado sobre a decisão do seu país de oferecer asilo político a Edward Snowden, o presidente assinalou que o jovem estadunidense manifestou claramente numa carta que sua vida corria perigo, e por isso seu país tomou a decisão de lhe abrir as portas.

"O princípio de asilo é um princípio que está na essência mesma dos processos de libertação vividos pela América Latina rumo ao que é a democracia, em suas diferentes modalidades. O asilo foi na América Latina um princípio sagrado, e por isso é que não se deve estranhar que encontremos na América Latina essa disposição (de conceder asilo a Snowden)", disse Ortega, lembrando que países latino-americanos como a Venezuela e a Bolívia também se manifestaram a favor de Snowden.

“O imperialismo é um só”

"Eu penso, estou convencido, que o mundo  enfrenta, o planeta inteiro enfrenta o que é uma ditadura do capitalismo global. O capitalismo, o imperialismo é um só (…) os interesses são os mesmos e são os que historicamente subjugaram os povos na África, na Ásia e na América Latina", sustenta Ortega, recordando que foram os europeus  que invadiram, dominaram e escravizaram a África, a América ou a Ásia.

Ortega considera que o mundo tem dois grandes grupos: o grupo dominante — afirma — está composto "pelos países que foram colonialistas, mas que não deixam de pensar e atuar nestes novos tempos como imperialistas", e que ademais — diz — "compartilham estratégias militares, estratégias políticas, estratégias econômicas com os Estados Unidos da América do Norte, são um só".

“O que nos resta é continuar lutando pela unidade latino-americana”

Em referência às suspeitas da Bolívia de que Washington solicitou a alguns países europeus que fechassem o espaço aéreo ao avião de Evo Morales, presidente da Bolívia, Ortega acredita que "não é que os Estados Unidos estejam obrigando os europeus a atuar dessa maneira", mas sim que simplesmente eles têm "interesses comuns de dominação mundial", "estratégias compartilhadas", e "querem subjugar todos os povos".

"O que nos resta é continuar lutando pela unidade latino-americana", enfatizou Ortega, e acrescentou que a região está conseguindo vencer o imenso poder do império, que — assegura — quer ver uma América Latina dividida. Por isso é que — adverte — a única resposta que podemos dar é "a unidade".

As relações de respeito entre a Nicarágua e a Rússia

Ortega afirma que as relações que seu país desenvolve com a Federação Russa - igualmente que em seu momento com a União Soviética -, são relações baseadas no "respeito". Ortega lembra que teve a oportunidade de se reunir com dirigentes soviéticos da época, como Brézhnev, Chernenko, Andrópov ou Gorbachov.

"Nunca nos disseram como devíamos desenvolver nosso modelo político, econômico, social; nunca nos disseram como devíamos desenvolver nossas relações internacionais, nunca nos disseram para conduzir uma política agressiva contra os EUA, ao contrário", afirma Ortega.

O mandatário lamenta que as potências imperialistas e pró imperialistas queiram negociar, ou queiram aportar, "impondo condições", algo que, na sua opinião, é uma política escravagista.

"Ao contrário, com a Federação Russa não existe tal atitude, não existe esse comportamento; é de respeito, e nós o reconhecemos, valorizamos muito isso", sentenciou Ortega.

"Não podemos imaginar o mundo de hoje sem a juventude".

Daniel Ortega falou também da importância do papel dos jovens, já que "não podemos imaginar o mundo de hoje sem a juventude". "Na Nicarágua, ainda com mais razão, eu diria, porque aqui tivemos uma mudança revolucionária que foi dirigida por jovens", disse.

Ortega afirma que a revolução do seu país conseguiu manter-se nas diferentes gerações, porém agora, sob novas propostas. Considera que agora "a batalha são as ideias para vencer a pobreza, para vencer a fome; e a juventude nicaraguense está profundamente comprometida".

Tradução: Jadson Oliveira

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