MÉDICOS CUBANOS: POR QUE É TÃO DIFÍCIL ENTENDER?

De Belo Horizonte (MG) - Peguei este diálogo aí no sítio do jornal Brasil de Fato:
 
Chegada dos primeiros 200 médicos cubanos, 30 desembarcaram neste sábado (24 agosto) às 14h no aeroporto de Recife. Crédito das fotos: Talles Reis.

O tom da coletiva de imprensa no ato de recepção aos cubanos no aeroporto de Recife:

- JORNALISTA: O que os motivou a vir para o Brasil?
- MÉDICA CUBANA: A solidariedade?

- JORNALISTA: Quanto vocês vão ganhar e quanto vão repassar para o governo cubano?
- MÉDICA CUBANA: Vamos ganhar o suficiente, já temos tudo lá em Cuba: educação, trabalho, moradia....."
 
Por que será que é tão difícil para um brasileiro entender esse terrorismo todo com a vinda dos famosos médicos cubanos para o Brasil, dentro do programa do governo federal chamado Mais Médicos?
 
Seria uma coisa relativamente simples, afinal busca-se uma forma de levar médicos a comunidades pobres, aos rincões pobres deste Brasilzão, para os quais médicos brasileiros, por razões diversas, inclusive financeiras, não se sentem atraídos.
 
Mas na verdade não é simples. Dando respaldo político e ideológico, há as razões de fundo que estão vinculadas ao nosso sistema capitalismo: porque num sistema capitalista a doença, embora envolva o sofrimento e até a morte das pessoas, é um meio de se ganhar dinheiro. Simples, simples, se ganha dinheiro, até se fazem fortunas com a doença das pessoas, sejam ricas, remediadas ou pobres. A doença se transforma num simples meio de ganhar dinheiro.
 
Por trás da indústria da doença, estão os interesses, muitas vezes camuflados, de médicos (ditos gananciosos) e suas entidades corporativas; de empresários das clínicas, dos hospitais, dos planos de saúde e dos laboratórios - os fabricantes de remédios, estes sim chamados pelo nome "indústria" farmacêutica, pelo que sei geralmente corporações transnacionais.
 
Já pensou quantos bilhões de reais a indústria da doença movimenta? Já pensou quantos negócios iriam à falência se as doenças começassem a diminuir, por exemplo se se passasse a dar uma força aos aspectos preventivos? (Aliás, não por acaso, a prevenção é um dos focos da medicina cubana).
Mas me sensibiliza mais tocar num outro ponto: botaram na cabeça do brasileiro que a gente tem que ganhar dinheiro, a todo custo, ganhar dinheiro, fazer dinheiro (como diz o estadunidense), muito se possível, mais, sempre mais. Chega a ser uma neurose. O que é próprio do capitalismo, desse consumismo exacerbado, individualismo, egoísmo, desse ter coisas, acumular bens, trocar de carro todo ano para ser feliz. 

Ganhar dinheiro seria uma coisa normal se a pessoa pudesse chegar um dia à conclusão de que já ganhou ou está ganhando "o suficiente". Comprar coisas seria um comportamento normal se a pessoa pudesse chegar um dia à conclusão de que já comprou ou já tem coisas "suficientes" (Me lembra a Amora, personagem da novela Sangue Bom, da Globo, com aquela imensa vitrine de sapatos no seu quarto, uma loucura!).
 
É hipocrisia demais ver jornalistas e comentaristas (vi na TV) - meros ventrílocos do pensamento da direita - dizendo-se condoídos porque os "pobres" cubanos seriam submetidos a trabalho escravo no Brasil. É de doer no fígado tanta hipocrisia!
 
Por que não acreditar que o sentimento predominante entre os médicos cubanos é a solidariedade com o ser humano carente? Por que é tão difícil entender? Eles já fazem isso há dezenas de anos e em dezenas de países, principalmente na América Latina, Caribe e África, apesar da mídia hegemônica sonegar tais informações aos brasileiros (Notícia sobre Cuba no Brasil só sai na mídia tradicional se for negativa). 
 
(Estou contando aqui no meu blog minha experiência pessoal ao ser tratado pelos cubanos em Caracas, já estou no segundo capítulo - "Médicos cubanos: eu fui paciente do sistema público de saúde na Venezuela").
 
É difícil entender porque para nós a solidariedade, a fraternidade entre as pessoas é coisa que não conta, a não ser quando se fala de um caso ou outro isolado, um herói, um iluminado por algum raio divino. Nunca como regra geral que deve formar o caldo de cultura da nossa convivência, rumo à construção do humanismo, de algum tipo de socialismo (coisa de esquerdista, dirão os "realistas").
 
O que deve contar na nossa sociedade não é a solidariedade, mas sim a competitividade - assim nos ensina, explícito ou subliminarmente, a maioria das mensagens dos jornais, rádios, TVs, dos filmes de Hollywood, das novelas, das fofocas de celebridades, dos programas de auditório, dos boletins policiais que dominam os telejornais, de todo esse mundo de coisas que vai formando culturalmente a maioria do povo brasileiro. 
 
Além da carga despejada por instituições como a família, a escola e as igrejas (friso, na maioria delas, porque creio que a resistência sempre está presente, mesmo minoritária).
 
Então, esses médicos cubanos vêm falar de solidariedade, aqui nas nossas barbas, vêm falar que ganham "o suficiente", vêm falar que "já temos tudo lá em Cuba". Vamos e venhamos, os direitistas têm toda razão: serão uma ameaça, serão um péssimo exemplo!
 
Mais algumas fotos (não sei se todas são de Talles Reis, peguei também em outros sítios da Internet):
 
 
 
 

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