MATERNIDADE, HIPOCRISIA E CAPITALISMO



Por Fabiano Viana Oliveira* (foto, com seu filho Miguel, de quatro meses)


Ser mãe não é uma autorrealização emocional das mulheres, é um cargo, um emprego a mais que a sociedade capitalista impõe nos mesmos parâmetros de um cargo assalariado qualquer.


Deve soar desumano o que se irá dizer aqui, e o é mesmo, mas do jeito que as imposições do mercado de trabalho estão, especialmente sobre as mulheres, ser mãe deixou de ser um estado natural de relação emocional com a criança e passou a ser um trabalho, com metas e objetivos sazonais e com auditorias de qualidade constantes.


Tenho vivenciado este fato na minha própria casa. Não que antes ter filhos não fosse uma tarefa trabalhosa, o que mudou foi o nível de exigência sobre as mulheres profissionais e que decidem se tornar mães. Por mais que a mídia “chapa branca” romantize os momentos de sofrimento materno como sendo algo que vale a pena em troca da felicidade infantil, o que se esconde por trás é um nível de exigência ao nível da indústria capitalista para que mulher seja excelente profissional, competitiva, implacável e ao mesmo tempo mãe, provedora e que ainda seja amorosa e carinhosa com a criança. Como isso é possível? Como acumular tantas funções e ainda crer no “milagre” da maternidade?


Minha esposa já está perto de terminar a licença maternidade de quatro meses (no Canadá são de dois anos!), e já está sofrendo a pressão das demandas do trabalho, ao mesmo tempo os seus familiares a cobram estar presente, a todo momento, da vida do filho. Sendo cobrada para isso no mesmo nível de eficiência, eficácia e efetividade como se estivesse sendo auditada pela ISSO 9001. Será que ela não tem direito de algum momento egoísta de lazer só para ela?


A maior parte do tempo não vejo uma mulher iluminada, radiante com a maternidade, mas sim uma mulher cansada (exausta) e triste, pois não consegue dar conta de suas tarefas de casa e do trabalho. Já imaginando quão pior vai ser quando a licença acabar e ela ter de voltar ao ritmo de trabalho de antes. Será?


E olha que tomamos a decisão de contratar mais uma governanta para cuidar da casa e ajudar com o bebê. Quer dizer que a imposição do modelo de trabalho capitalista é tanta, que para continuar no esquema de vida que tínhamos antes da criança, precisamos passar a ter duas empregadas domésticas... Já era um absurdo ter uma, quanto mais duas. Tudo isso porque o nível de trabalho que precisamos ter para manter o padrão de classe média é de 80 horas semanais de trabalho.


O mais engraçado é que isso é exaltado pela mídia como sendo o máximo da realização: trabalhar muito, criar um filho, mas e a qualidade de vida? E o tempo livre? E o tempo para estar realmente com a criança? Será que nosso filho será mais um criado por babás? Espero que não!

*Fabiano Viana Oliveira é professor de Ciências Humanas na Faculdade Castro Alves.

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom seu texto...seu blog ainda está ativo? Tenho mais coisas a comentar e compartilhar, mas gostaria de saber antes...