A ONU, CUBA E VENEZUELA

Por Eleazar Díaz Rangel (foto), jornalista venezuelano (traduzido do portal Aporrea.org, de 18/11/2012)

De Caracas - Já se chamavam “os três grandes”. Eram Franklin Delano Roosevelt, Winston Churchill e José Stalin, os chefes dos países aliados que ganhavam a guerra contra o eixo fascista formado por Berlim, Roma e Tóquio. Se reuniram em Yalta e terminaram de acordo sobre a Organização das Nações Unidas (ONU), que seria fundada em 1945 em São Francisco. Nesses meses os embaixadores dos Estados Unidos pressionavam os governos latino-americanos para que decretassem o rompimento de relações e a declaração de guerra à Alemanha. O presidente Medina Angarita, como todos os demais, atendeu (Getúlio Vargas, no Brasil, também). Era o passaporte para participar da fundação da ONU.

O caso é que em Yalta aprovaram a existência de um Conselho de Segurança, com o direito a veto para seus integrantes que, finalmente, foram China, Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética, e acrescentaram a França. Aí reside todo o poder da ONU, e hoje se reclamam mudanças, inclusive na sua estrutura, para dar entrada a outros países.

Em Moscou, em novembro de 1943, os chanceleres dos EUA, China, Inglaterra e França “reconhecem a necessidade de estabelecer o mais breve possível uma organização geral e internacional, baseada no princípio da igualdade soberana de todos os Estados, grandes e pequenos, para manter a paz e a segurança internacional”. Como se sabe, uns são mais iguais do que outros.

Quantas guerras houve desde então? Incontáveis. Desde a guerra da Coreia, onde se enfrentaram China e EUA, as de Indochina e Vietnã, ambas ganhas por seus respectivos povos, as do mundo árabe e as posteriores invasões dos EUA; enfim, se trata de uma longa lista de conflitos que a ONU nunca pode impedir, entre outras razões porque de nada valem as decisões da Assembleia Geral, onde participam e votam todos seus membros.

Para recordar decisões que nos afetam, estão as resoluções da Assembleia Geral para tentar impedir o golpe de Estado em Honduras e repor o presidente constitucional.

A mais recente de todas, e que se repete em duas dezenas de ocasiões, a cada ano, desde 1990 creio, é a condenação ao bloqueio a Cuba e a suspensão do mesmo. Na última dessas sessões falaram cada um dos representantes dos 193 países membros, dentre os quais 188 condenaram o bloqueio, dois, que antes votavam contra, se abstiveram, e somente três apoiaram o bloqueio: Palau, EUA (que insiste que se trata duma questão bilateral que não é da competência da ONU) e Israel, que paga assim o incondicional apoio à sua política contra o mundo árabe e às piores causas internacionais. Nesses 188 votos estão todos os da América Latina, incluídos os mais próximos aliados dos EUA, assim como do resto do mundo, inclusive os que de alguma maneira dependem da Casa Branca.

Esta votação foi a mais alta em solidariedade a Cuba e na crítica à política estadunidense contra esse pequeno país, cujo chanceler, Bruno Rodríguez, denunciou que durante o governo de Barack Obama, em relação a um período anterior similar, se haviam duplicado as punições às empresas estrangeiras que negociaram com Cuba, com multas de 2,2 bilhões de dólares.

Washington tem sido cego e surdo ante esse clamor de toda a comunidade internacional que vem se expressando a cada ano, sempre crescendo em cada Assembleia Geral, independentemente do presidente ou do partido que governe nos Estados Unidos. Menos caso fazem do próprio povo estadunidense que, segundo as pesquisas, tem se pronunciado pela suspensão do bloqueio.

Outra derrota. Tampouco teve êxito a diplomacia estadunidense ativa desde meses para tentar impedir uma votação que elegesse a Venezuela ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Há pouco, o embaixador Jorge Valero denunciou com detalhes a luta que tiveram de travar para impedir que se repetisse a experiência de 2010, quando não se alcançaram os 93 votos necessários. Agora a Venezuela foi eleita com 154 votos (EUA tiveram 131). Não deixa de ser outra derrota da política estadunidense numa mesma semana.

Os avanços do país em relação aos direitos humanos, a sensível redução da pobreza reconhecida pela ONU através da FAO, o índice Gini mais baixo da América Latina, que revela que o país apresenta a menor diferença entre os mais ricos e o resto da população, os êxitos no combate ao analfabetismo e a alta matrícula universitária, que coloca a Venezuela em quinto lugar no mundo (na América Latina é o segundo, Cuba é o primeiro), são fatores que, supõe-se, são medidos com referência a uma votação como esta.

Observação do Evidentemente: Eleazar Díaz Rangel é muito respeitado entre as forças progressistas e de esquerda na Venezuela, apesar de dirigir a redação de Últimas Notícias, o diário de maior circulação nacional do país (disparado, em torno de 300 mil exemplares por dia). É do Grupo Capriles, grande conglomerado privado de comunicação, de propriedade da família Capriles, à qual pertence Henrique Capriles Radonski, derrotado na eleição presidencial de 7 de outubro. Era o principal opositor do presidente Hugo Chávez).

O curioso é que Eleazar, também professor universitário, consegue manter uma posição política pessoal bem diferente da linha do jornal, como se pode ver no artigo acima, publicado num sítio como o Aporrea, de orientação nitidamente popular, de esquerda, socialista, bolivariana, revolucionária.

Por outro lado, o Últimas Notícias, apesar de ser chamado por chavistas de “Últimas Mentiras”, não chega a ser uma publicação anti-chavista, como a grande maioria da imprensa venezuelana. Procura divulgar um noticiário mais ou menos equilibrado, embora predomine uma visão mais à direita. O Grupo Capriles tem outras publicações radicalmente anti-chavistas.

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