DOM JOSÉ RODRIGUES: "NUNCA TRAÍ OS POBRES"

Bispo de Juazeiro entre 1975 e 2003, dom José foi um dos fundadores da CPT Regional Nordeste III (Bahia/Sergipe), em 1976, da qual foi bispo acompanhante por muitos anos. Criou logo em seguida a CPT de Juazeiro, como resposta pastoral ao sofrimento do povo expulso pela barragem de Sobradinho e aos camponeses vítimas da grilagem de terra, no início da irrigação agrícola no submédio São Francisco.

Nota da Comissão Pastoral da Terra, com o título Povo brasileiro perde dom José Rodrigues - reprodução do sítio do jornal Brasil de Fato, de 10/09/2012. O título acima é deste blog.

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A organização eclesial (CEBs), sindical e política do povo sertanejo teve grande impulso sob sua inspiração e incomodou os coronéis locais e os donos do poder na Bahia. Por conta de seu destemor na defesa dos pobres, explorados e oprimidos, esteve por várias vezes sob risco de violência e morte, mas não retrocedeu, impávido, às vezes contra nossa vontade. A entrega de si aos outros se tornou definitiva quando se fez refém de assaltantes em lugar da família do gerente do Banco do Brasil e esteve por dias com um revólver apontado para sua cabeça, perdoou os criminosos, escrevia-lhes e ajudava a se recuperarem.

Ao deixar a diocese, quando completou 77 anos de idade, disse como da essência de um testamento: “nunca traí os pobres”. Sem dúvida alguma, sua fidelidade mais profunda era a Jesus de Nazaré.  (Clicar para ler a nota completa)

Observação do Evidentemente: Me lembro meus tempos de repórter da Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, sucursal do Estadão e de Movimento, em Salvador-Bahia, anos da década de 70 e início dos 80, época feia do regime militar no Brasil. Tempo de raras vozes que se levantavam pelo povo pobre. Dom José Rodrigues, bispo da Diocese de Juazeiro, era uma dessas vozes. E incomodava muito a ditadura e os servidores da ditadura.

Os repórteres estávamos sempre com Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo da Bahia e primaz do Brasil, uma voz moderada, com seu jeito manso e perspicaz, que ajudou muito naquela difícil travessia. Uma vez ele comentou conosco, os repórteres, que o pessoal ligado ao governo, à ditadura militar, vinha se queixar a ele sobre o "radicalismo" de Dom José Rodrigues. E Dom Avelar explicava: eles não entendem a organização da Igreja católica, pensam que eu sou superior hierárquico de Dom José, mas não é assim, cada diocese é independente, só deve explicações diretamente ao Papa. E concluía: eu não posso fazer nada. 

Uma grande figura o Dom Avelar. Nós - jovens sedentos contra a ditadura - o criticávamos muito por sua moderação. Hoje creio que todos reconhecemos que nosso arcebispo ajudou muito naqueles tempos tenebrosos.

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