Migus: programa dentro do ideário do FMI (Foto: Aporrea.org) |
Matéria
da Agência Venezuelana de Notícias
(AVN), reproduzida de Aporrea.org,
de 21/08/2012, com pequenas adaptações e explicações. O título original é: “Se
a direita revela seu plano de governo teria o rechaço de seus seguidores”.
O verdadeiro programa de governo da oposição, que não beneficia
a grande maioria dos venezuelanos, foi o proposto pela chamada Mesa da Unidade
Democrática (MUD – nome da articulação da direita) para as eleições primárias (quando
os oposicionistas escolheram o candidato Henrique Capriles) e não o apresentado
pelo candidato da direita ante o Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente
ao nosso TSE), afirmou na terça-feira, dia 21, o sociólogo francês Romain
Migus, autor do livro El
programa de la MUD.
Migus destacou que se a direita venezuelana apresentasse o verdadeiro programa ao povo, inclusive seus partidários não votariam em Capriles posto que ninguém "votaria por um candidato que não respeita seus interesses como pessoa".
Durante sua participação no programa Toda Venezuela, transmitido por Venezolana de Televisión (VTV – emissora estatal), Migus explicou que nas 32 páginas entregues ao CNE há unicamente uma referência ao tema do petróleo "e é para dizer que se deve investir os recursos provenientes dos hidrocarbonetos para o desenvolvimento do tecido industrial e produtivo".
Enquanto isso, no programa da MUD (no proposto para as primárias) pode-se ler 94 artigos, no decorrer de 15 páginas, que tratam o tema do petróleo "e não nos termos que Capriles trata em seu ‘rascunho’" (no “programa” entregue ao CNE).
Nesse sentido, Migus afirmou que por tal motivo a oposição não tem feito muito barulho nem publicidade do programa. "Mas é uma proposta muito completa, coerente e dentro dos marcos da ideologia neoliberal", advertiu.
"Isso é bastante importante assinalar, porque aí se está apresentando o que a direita faria no caso de chegar ao poder", comentou.
O sociólogo francês disse que o verdadeiro programa da MUD se inscreve nas políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e se pretende aplicar as mesmas medidas adotadas na Europa a partir da União Europeia, como no caso da privatização dos aeroportos.
"Isso seria o norte do programa. Ao longo das 166 páginas do programa da MUD (o verdadeiro) são feitas 103 referências à necessidade de participação do setor privado na vida sócio-econômica", explicou.
Descentralização
Migus esclareceu ainda que a oposição fala da descentralização, mas numa versão neoliberal. "Dizem que é uma forma de aproximar o poder da população, na realidade é uma maneira de destruir o Estado nacional, atomizá-lo; porque é o único ente regulador da riqueza. Como consequência deste tipo de descentralização temos a privatização", explicou.
Indicou que a direita venezuelana deixa claro em seu programa que querem desvincular do poder político a Petróleos de Venezuela (Pdvsa – a estatal venezuelana, como nossa Petrobras) e orientá-la para fins comerciais (é um tema muito comentado aqui, seria a pretensão de “despolitizar” a Pdvsa).
Segundo o programa da MUD as empresas Pdvsa Industrial e de Agricultura seriam independentes da estatal petrolífera.
Observação do Evidentemente:
A volta da exclusão e o fim dos programas sociais
Este tema da falta de explicitação do programa de Henrique Capriles é muito discutido por aqui. Na verdade, o candidato da oposição repete incansavelmente nos seus discursos, nos atos quase diários da campanha eleitoral, afirmações como: vai acabar com a insegurança, tem um plano para isso, faz referência aos pontos do plano, vai industrializar o país, vai acabar com essa coisa da Venezuela importar alimentos e tudo mais, é o “ônibus do progresso”, é o futuro, o outro candidato (Chávez) é presidente do século passado, vai melhorar a educação, saúde, moradia, etc, etc, coisas que são sentidas e interessam à população, fazem parte dos problemas do país.
Mas nunca explicita a linha ideológica, política e econômica do que seria seu governo, já que o ideário neoliberal é hoje totalmente impopular.
Em recente entrevista publicada na imprensa local, o diretor do instituto de pesquisas Hinterlaces (um dos mais conceituados), Oscar Schemel, declarou que a menos de dois meses (já estamos a um mês e meio) para as eleições presidenciais de 7 de outubro, os próprios simpatizantes de Capriles têm dificuldades para identificar suas ideias e a visão que tem do país.
Falando da estratégia da campanha, o dirigente da Hinterlaces disse que a oposição "está concentrando em recolher o descontentamento (...), em reduzir a percepção de que a candidatura de Capriles significaria uma restauração da exclusão e uma eliminação dos programas sociais".
Ainda na mesma entrevista ele lembrou números de pesquisa do mês de julho, desfavoráveis à direita: a avaliação positiva da gestão do presidente Chávez subiu 3% e chegou a 67%; e o seu trabalho é aprovado, principalmente, em matéria de construção de moradias (72%), saúde (59%) e educação (65%).
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