FIM DA GREVE DA PM BAIANA (vídeo 3): GREVISTAS HOSTILIZAM IMPRENSA


De Salvador (Bahia) - “Tudo fascista aí... tudo fascista”; “A imprensa conseguiu...”; “Tá saindo vitoriosa, viu imprensa!?” “Vai embora, porra!” Estas expressões ouvidas no vídeo acima são de policiais grevistas que deixavam a assembleia que acabava de decidir pelo fim da greve de 12 dias na Bahia. (Foi realizada no Ginásio de Esportes dos bancários, nas proximidades do Largo dos Aflitos, em Salvador, no início da noite deste sábado, dia 11).

Eles se mostravam indignados com o que consideram parcialidade da cobertura midiática. Estavam se dirigindo aos cerca de 30 repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e auxiliares que os esperavam no portão, já que foram impedidos de cobrir o desenrolar da assembléia, como, aliás, aconteceu em reuniões anteriores. Na parede da frente do Ginásio havia cartazes falando de “sensacionalismo da imprensa”, chegando a mencionar Raimundo Varela, apresentador do “Balanço Geral”, programa muito popular da TV Record. Esse clima de revolta e hostilidade foi visto durante outras manifestações e se acentuou depois da divulgação de gravações com diálogos que vinculam lideranças com atos de vandalismo.


Quando o pessoal da imprensa estava esperando o final da assembleia, no passeio defronte à entrada do Ginásio – esperaram em torno de quatro horas, já que o encontro estava marcado para 16 horas e só começou às 19 horas -, era possível notar grevistas que, enquanto transitavam pelas proximidades, faziam ameaças e xingamentos, em tom mais ou menos discreto. Os jornalistas, aparentemente, não escutavam, mas certamente sentiam o clima hostil.


Nas manifestações dos grevistas na área em torno do prédio da Assembleia Legislativa, durante nove dias (da noite de 31/janeiro à manhã do dia 9) ocupado por mais de 200 PMs em greve, era visível o constrangimento a que eram submetidos, às vezes, alguns/algumas repórteres, obrigados (as) a responder por matérias veiculadas por seus veículos, embora – nós, jornalistas, sabemos – eles/elas não sejam, tecnicamente, responsáveis pela edição, pelo produto final.


Então, em tais momentos, era possível se ouvir: “Eu sou repórter, estou fazendo meu trabalho”. Ou manifestantes cobrando, logo após a gravação de declarações favoráveis à greve: “Quero ver se vai sair tudo, vê se não muda, hein!” Havia também um lance interessante: um grevista exibe um cartaz atrás do repórter de TV no momento em que ele está gravando sua fala e o cinegrafista é obrigado a fechar a imagem no rosto do repórter, para que o cartaz – supostamente indesejável – não apareça o suficiente para ser lido.


Nesses momentos, os grevistas não querem saber de aspectos como a linha editorial do jornal, da TV ou da rádio, e/ou dos interesses políticos/econômicos dos donos do veículo, nem tampouco das pautas que devem ser cumpridas. Discussão sobre a ética do profissional do jornalismo torna-se uma coisa assim meio etérea, difícil de ser lembrada na correria do dia-a-dia. Então, sobra para os/as repórteres, afinal são eles/elas que estão no front.


No vídeo acima aparece ainda um grevista brandindo para os jornalistas uma folha de papel (deve ser uma ficha de inscrição ou algo semelhante) e destacando, como uma espécie de resposta aos que foram contra a greve, a perspectiva de crescimento da Aspra-Ba – a Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares, cujo principal líder é Marco Prisco (preso desde o dia 9), que luta pela reincorporação à PM desde a expulsão na greve de 2001 e que é referido pelos companheiros como “Soldado Prisco”.


A greve e a mídia (uma outra visão)

Por Levi Vasconcelos, jornalista da coluna “Tempo Presente”, do jornal baiano A Tarde, de 12/02/2012 (a observação "uma outra visão" é deste blog).


Bom jornalismo é aquele que premia o interesse público acima de quaisquer outros. Claro que aqui ou acolá, vez ou outra sempre se cede a interesses subalternos. É desvio ético, doença. Todavia, no caso da greve da PM, é impertinente o discurso de alguns policiais, segundo o qual a mídia foi comprada.


Pelo contrário. Raras vezes a mídia como um todo bateu numa tecla afinada. E o governador Jaques Wagner, longe de ter apoio unânime, justa ou injustamente apanhou, e muito, com alguns tributando a ele a responsabilidade pela conturbação.


A greve da PM, em que pese a legitimidade das reivindicações, se esborrachou porque ancorou-se, por estratégia, numa banda criminosa. Não o motim, a rebelião militar, que é um crime de caserna, mas os crimes vulgares, sequestros de ônibus e até assassinatos.


Algo insustentável para a mídia e qualquer pessoa de bom senso. Também no bojo das gravações, outra revelação bombástica, a intenção de melar o Carnaval em Salvador, Rio e São Paulo, nutriente de primeiríssima para a convergência midiática e o tiro de misericórdia para o movimento, o tiro.


O grupo de PMs que insiste na greve só não vê isso porque não quer.

Comentários

Joana D'Arck disse…
Jadson, você flagrou bem um momento que realmente merece reflexão e repúdio. Essa hostilidade contra profissionais da imprensa sempre existiu, sobretudo aqui na Bahia, onde os meios de comunicação, em sua maioria, estão nas mãos de políticos e claramente defendendo interesses de cada um. Os profissionais que estão nas coberturas acabam pagando o pato. Mas concordo também com Levi que a cobertura dessa greve foi ampla e teria sido desfavorável ao governo se os caras não pisassem na bola como pisaram. Pisaram feio. Primeiramente porque assim que decretaram greve deveriam entregar as armas ao estado, já que não são deles e não se negocia com armas nas mãos. Que aprendam a lição.