OS RICOS TAMBÉM CHORAM (mas por outras coisas)

Por Juan Carlos Monedero, professor espanhol de Ciência Política (reproduzido do sítio da TV Telesur, de 22/08/2011)


Vamos compreendendo que ser das primeiras fortunas de um país, fazer parte das principais empresas mundiais, estar entre as mais destacadas corporações financeiras ou ser dos maiores proprietários de imóveis não é senão o resultado do roubo organizado do trabalho de dezenas de milhares de pessoas? Entendemos que não se pode ser rico sem roubar, ainda que a lei o permita?


Vivemos tempos de Robin Hoods ao contrário. (George) Soros (famoso investidor/especulador) disse que gente como ele tinha que ser controlado, mas continua especulando; (Warren) Buffett (outro ricaço investidor estadunidense) disse que o governo Obama o tratava muito bem, ele e seus amigos, mas não devolveu um dólar. A dona de 50% de Zara (marca de rede internacional de roupa, de grupo espanhol, flagrada com trabalho escravo em São Paulo) disse que estava a favor do 15-M (movimento dos “indignados”), mas ainda se está esperando um gesto real. Por que dizem e não fazem? Querem o dinheiro, a glória e a bênção do Papa? Ser rico e se permitir o luxo de ter má consciência? No capitalismo atual, há uma fase material – onde o trabalho escravo é bem-vindo – e uma fase cognitiva – onde os novos escravagistas dizem deles mesmos que são umas belíssimas pessoas. E ainda há novos Tio Tom que estão agradecidos porque os ricos lhes devolvem em forma de esmola o dinheiro que lhes roubam. É verdade que estes ladrões caridosos são melhores do que os ladrões desapiedados. Mas merecem adulação? Enquanto tentamos fazer outro tipo de televisão, seria conveniente desligá-la.


Os neurobiólogos têm demonstrado (Gazzaniga, ¿Qué nos hace humanos? – O que nos faz humanos?) que os que acreditam em suas próprias mentiras têm maiores possibilidades de sobrevivência, pois têm mais credibilidade no grupo. Acreditar nas próprias patranhas é uma vantagem adaptativa. Cabe a nós desmascará-los. Os que crêem nos mentirosos, não deixam descendência. Por sorte, cada vez é mais clara a enganação. Apesar dos 200 confessionários de El Retiro. Sempre foi mentira que o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos. O que é bom para Zara não é bom para a gente que vive neste país. Tampouco para os de fora. Claro que é melhor trabalhar como escravo do que não trabalhar. Mera sobrevivência. Desestruturaram sua comunidade, tiraram seu acesso às terras cultiváveis, desalojaram de seu lugar. Mas uma coisa é assumir e outra diferente é comemorar. A diferença entre um cínico e um irônico é que o cínico sempre espera algum tipo de privilégio.


Capitalismo com face humana? De fato somente quando se está em público. Seria o caso de não perdê-lo de vista. Mas conseguiram permissão para abrir as lojas 24 horas e também nos finais de semana. Demasiado tempo ocupados e preocupados. Quando os problemas são estruturais, as soluções são estruturais. Se se quer descansar, vá pensando como substituir o capitalismo. Não sabemos se em outra igreja há salvação, mas nesta a condenação é garantida.


Tradução: Jadson Oliveira

Comentários

detaalmeida disse…
Jadson, gostei deste artigo. Simples e caceteiro!
Estou aqui, na Inglaterra, berco do neoliberalismo, vendo sucumbir o capitalismo no seu nascedouro. Embora, haja muita resistencia de admitir a morte - o deve durar alguns anos, creio eu.