A figura do caboclo no cortejo simboliza a participação popular na guerra para expulsar as tropas portuguesas (Fotos: Jadson Oliveira) |
Condenação aos critérios anti-populares dos preparativos para a Copa de 2014 foi uma das dezenas de campanhas que arrastaram milhares de pessoas pelas ruas de Salvador |
É um imenso palco por onde passam políticos, sindicalistas, militantes de causas as mais diversas, jovens escolares, integrantes das belas e ruidosas fanfarras e curtidores dos mais variados matizes. A variedade e irreverência das manifestações podiam ser notadas logo no Largo da Soledade, na Lapinha, antes mesmo de se iniciar o desfile: ao pé da estátua de Maria Quitéria, heroína das batalhas travadas contra as tropas portuguesas, uma jovem exibia o sugestivo cartaz: “Só faço por $ e quando quero”. E logo juntinho duas faixas, uma defendendo a descriminalização do aborto e outra reclamando: “Obama, liberte os 5 heróis cubanos”, referência aos cubanos que denunciaram a preparação de atos terroristas contra seu país e foram presos e condenados como terroristas pela Justiça dos Estados Unidos.
Isso é só uma pequena mostra do que se podia ver no sábado, no 2 de Julho deste ano, da Lapinha ao Terreiro de Jesus: cobrança sobre o assassinato do sindicalista Paulo Colombiano (era diretor do Sindicato dos Rodoviários) e sua esposa, há um ano sem qualquer elucidação; professores da rede estadual cobrando do governador Jaques Wagner o pagamento de diferenças salariais originadas da URV quando da adoção do Plano Real (1994); professores das universidades estaduais criticando duramente o mesmo governante petista também por questões salariais.
A turma do Comitê Baiano pela Verdade botou o bloco na rua para defender a aprovação da Comissão Nacional da Verdade, empacada no Congresso há mais de um ano. |
Professores das universidades estaduais, que vêm de uma greve recente que chegou a atingir dois meses, fizeram duras críticas ao governador Jaques Wagner |
O ex-governador Waldir Pires (ao seu lado o deputado Emiliano José) liderou o grupo de militantes do PT |
Uma data cívica baiana ou brasileira?
Esta é a parte que poderíamos chamar de popular. Na parte mais oficial, logo antes do desfile, no Largo da Lapinha, houve o hasteamento de bandeiras com a participação do governador, do prefeito de Salvador, João Henrique (alvo também de muitas críticas durante o cortejo) e do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo. Após o desfile, no início da tarde, há uma cerimônia na frente da Câmara de Vereadores, na Praça Municipal. E a partir das 3 horas da tarde, o desfile é retomado – já sem a maciça presença popular – rumo ao Campo Grande, para onde são conduzidas, finalmente, as duas carroças que ostentam as figuras do caboclo e da cabocla.
Tais figuras representam o detalhe mais genuíno da luta dos baianos, sob a chefia do general francês Labatut, para expulsar os portugueses depois do chamado Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, que vem a ser a data consagrada oficialmente como da independência do Brasil. O caboclo e a cabocla simbolizam a participação das camadas pobres, incluindo escravos, indígenas e vaqueiros, na guerra contra os portugueses.
Os indígenas, assim como escravos, caboclos e vaqueiros, formaram entre os soldados que expulsaram as tropas colonizadoras |
Essa tal consolidação da independência na Bahia, 10 meses após o suposto grito de Independência ou Morte, atribuído ao então príncipe Dom Pedro, pelo que me consta, só é conhecida pelos baianos. No resto do país, o 2 de Julho termina ficando na memória nacional como mais uma manifestação da folclórica inclinação dos baianos para a festança. Para ilustrar: a hoje senadora Lídice da Mata (PSB-BA) - por sinal sempre presente na festa, como no sábado último – era deputada federal quando o nome do aeroporto de Salvador foi mudado de “2 de Julho” para “Luis Eduardo Magalhães”. Consta que ela teria comentado sobre a dificuldade de argumentar contra a mudança de nome, porque os ilustres congressistas seus colegas simplesmente desconheciam de que se tratava esse tal “2 de Julho”.
Comentários