Dilma, Serra, Marina e Plínio se enfrentaram no debate da TV Record |
Fica até parecendo que tal campanha é invenção dos chamados blogueiros progressistas e do movimento democrático e popular, que fizeram um expressivo ato “contra o golpismo da mídia” na última quinta-feira, dia 23, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Afinal de contas, o próprio presidente Lula e sua candidata já se manifestaram explicitamente contra o denuncismo partidarizado da mídia – Dilma chegou a falar de “má fé” da Folha -, mesmo tendo o cuidado de proclamar que todas as denúncias são e serão apuradas pela Polícia Federal, ou seja, pelo próprio governo.
Se se reconhece que a velha mídia tem lado – e esse lado é a direita, é anti-popular, anti-democrático, anti-movimentos sociais - e a maioria das denúncias de corrupção não é comprovada, configura-se claramente o abuso de poder da imprensa, a badalada liberdade de imprensa conspurcada pela liberdade das empresas, dos monopólios dos meios de comunicação, proibidos pela Constituição de 1988 e imperando no dia-a-dia dos brasileiros. Esperava-se, então, que durante o debate tal abuso fosse denunciado por candidatos como Plínio e Dilma. Por Serra não, porque a campanha visa beneficiá-lo; e por Marina Silva (PV) tampouco, porque ela, por ingenuidade ou oportunismo, tem se embalado na onda da mídia, reforçando os objetivos da oposição à direita.
“Prefiro as múltiplas vozes críticas na democracia do que o silêncio da ditadura”
Plínio e Dilma não o fizeram nem quando lhes foi dada a oportunidade através da corajosa pergunda da jornalista Adriana Araújo. Ela indagou a Plínio, para comentário de Dilma, se a imprensa está fazendo uma cobertura imparcial da eleição. O postulante do PSOL bateu numa de suas teclas prediletas – a meu ver, corretamente -, denunciando que os candidatos de esquerda são censurados pela mídia, e chegando a dizer que a Folha não cita seu nome “nem a pau”. Defendeu ainda o controle social da mídia de massa, uma tese consagrada entre os movimentos sociais. Porém, sobre o “denuncismo” para tentar empurrar Serra, nem uma palavra. Ao contrário: ao deitar falação contra a corrupção, sem qualquer menção à campanha contra Dilma e a favor do tucano, ele acabou fortalecendo tal campanha.
E Dilma, o alvo da campanha da mídia, por que não aproveitou a pergunda da jornalista? Pois é. Ela não tocou no assunto, preferiu a tentativa de conciliação com os poderosos senhores da mídia privada, um dos pilares da ainda não tão nova república, que continua oligárquica, certamente reconhecendo quão poderosos eles ainda são, apesar dos ditos em contrário pelos emergentes meios de comunicação representados pelos blogueiros. A candidata do governo, que apanha todo santo dia nas manchetes dos jornalões, preferiu se somar ao discurso vazio dos mesmos jornalões que a atacam, preferiu tranquilizá-los, soltou até uma frase bem bonita: prefere “as múltiplas vozes críticas na democracia do que o silêncio da ditadura”. Bonito!
Os verdadeiros democratas, os que sonham com a aceleração do processo de inclusão do povo pobre, os que se reuniram contra o golpismo no Auditório Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas, certamente, se perguntam: de que democracia se fala? De que ditadura se fala? Da dos monopólios da mídia? Da do governo Lula?
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