CENA OPERÁRIA: COMENDO JABÁ NA CASA DO NORTE

Ovídio, Juvenal, Jadson (com a camisa do Tô à Toa) e Antônio Carlos
De São Paulo (SP) – Tem costela, joelho de porco, rabada, jabá... foi dizendo o garçon ao sentarmos para uma cervejinha na Casa do Norte, em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo, aquele mundão de 18 milhões de habitantes.

Juvenal, baiano de Itapetinga
- Traga logo uma cerveja, avisou Juvenal, baiano de Itapetinga, que estava meio chateado: “Viu aí? Do time mesmo só vieram dois, assim não dá, o pessoal marcou e não apareceu quase ninguém”. É uma espécie de diretor técnico do grupo de futebol de salão, de nome Tô à Toa. Tinha perdido de 7 a 2 num torneio numa quadra comunitária, “estava aí abandonada, mas agora por causa da eleição um político chegou aí e reativou o campinho de futebol, é sempre assim...”, explicou Antônio Carlos, o único paulista do grupo e também o único com experiência de militância política. O terceiro é Ovídio, outro baiano, de Ilhéus/Itabuna, que se dizia da “comissão técnica”, porque jogar mesmo que é bom, só a turma jovem. O quarto é este repórter, encarregado de escrever a crônica do que vou chamar “um domingo de lazer dos operários paulistas” (os três são companheiros metalúrgicos da Molas Aço, indústria instalada em Guarulhos, só que Ovídio agora está em outra fábrica, mas continuam amigos).

- Os movimentos sociais, populares, estão meio parados por aqui. Participei muito das greves operárias, metalúrgicas, aqui de São Paulo, do ABC, nos anos 70 e 80, mas agora... Se você quiser conhecer o ambiente, podemos nos reunir com uns amigos no final de semana, participar de um torneio de futebol de salão, bater um papo, comer um churrasco, tomar umas cervejas. Eu tinha dito a Antônio Carlos que queria conviver um pouco com operários, pessoal mais simples da periferia, dentro do possível cobrir para meu blog atividades do movimento social e operário, afinal de contas não me interessa estar em São Paulo apenas circulando pela Avenida Paulista.

Antônio Carlos, paulista e militante político
- O trabalho lá na fábrica é duro, quem tá de fora, vocês jornalistas, nem imaginam, ficar levantando marreta e batendo, levantando e batendo horas seguidas, pra acertar as molas, naquela quentura dos diabos, com pouco tempo começam a aparecer problemas nos músculos dos ombros – é Antônio Carlos falando do óbvio para os companheiros metalúrgicos e de novidades pra mim.

- Me lembro da luta que tivemos quando eu fazia parte da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), conseguimos depois de muita discussão instalar uns ventiladores gigantes que espirram água para amenizar o calorzão, mas quando a água bate em seu corpo já tá quente, é dureza... por mais que a tecnologia avança, muita coisa continua dependendo da força bruta do homem. Produzimos, por exemplo, grampos para os trilhos de estradas de ferro, para o metrô, já pensou a fortuna que a fábrica vai ganhar produzindo grampos para esse “trem bala” que vai ligar São Paulo ao Rio? Uma vez, numa mesa de negociações, quando eu militava na oposição metalúrgica e o Lula (hoje o presidente Lula) ainda era líder sindical, brinquei com ele perguntando quanto tempo fazia que ele tinha perdido aquele dedo da mão e se ele ainda lembrava como era manejar um torno, ele deu risada.

Ovídio, baiano de Ilhéus/Itabuna
Curió, pernambucano
- Olha quem vai passando ali, Curió, CURIÓÓÓÓ!, chamou Ovídio. Era outro colega da Molas Aço, pernambucano. Tinha trabalhado naquele domingo e acabava de encerrar seu turno, já estávamos pelo meio da tarde. Ele se juntou ao grupo, à cerveja, ao papo, aos camaradas, que nessa altura do “campeonato”, terminavam de comer dois joelhos de porco e um prato de carne de jabá, com arroz, pimenta e farinha, que um deles chamou de “neve”, branca, fina e boa como a farinha da Bahia.

Comentários

Anônimo disse…
Só faltou encontrar algum seabrense. "o movimento tá meio parado", é? que graça!
Fabiano
Joana D'Arck disse…
Essa aí me lembrou uma manchete do colega Barroquinha, na Tribuna da Bahia: "Cresce o movimento dos deficientes físicos" (rsrs).
Anônimo disse…
Conheço esse bar, já comi o joelho de porco e outras comidas brabas lá com alguns baianos. Foi muito bom, só não faz bem para o colesterol, mas quem pensa em colesterol na hora da farra?
Gostei das fotos.
Joana D'Arck disse…
As fotos estão ótimas mesmo. Parabéns pelos clics, o texto e a postagem.Grande Jadson!