Mulher comanda em Trinidad e Tobago

De Porto Espanha (Trinidad e Tobago) – A oposição teve uma vitória esmagadora na eleição do último dia 24, elegendo mais de 2/3 do Parlamento – 29 das 41 cadeiras – e, pela primeira vez na história, o país tem uma primeira-ministra: Kamla Persad-Bissessar (foto), 58 anos, líder do Congresso Nacional Unido (UNC – United National Congress), venceu à frente de uma coalizão de cinco partidos. Entre 1995/2000, quando seu partido estava no poder, ela chefiou o que se pode traduzir como Procuradoria Geral da República, um órgão que parece particularmente importante aqui, encarregado de fiscalizar a aplicação das leis e proteger os cidadãos.

Foi derrotado o agora ex-primeiro-ministro Patrick Manning (foto), chefe do Movimento Nacional do Povo (PNM - People’s National Movement), que governava T&B desde 2001 e já esteve no poder num período anterior (1991/1995). Tem 63 anos. Foi eleito parlamentar (poderíamos charmar deputado, aqui os jornais usam MP, membro do Parlamento) pela primeira vez aos 24 anos. Nesta eleição mais uma vez foi reeleito, continuando, portanto, como MP. Seu governo tinha como debilidades acusações de corrupção, de descontrole da criminalidade, de aumento do desemprego e de mau relacionamento com os trabalhadores (ou sindicatos).

Não consigo entender o significado histórico do desfecho eleitoral. Não percebo qualquer diferença política e ideológica entre os dois lados. (Como já disse, não compreendo a realidade local, devido à falta de domínio do inglês). Os comícios durante a campanha eram mais eventos musicais e artísticos. As mensagens dos candidatos eram sempre em tom paternalista, tipo “nós amamos vocês, vamos cuidar de vocês”.

São três os jornais mais vendidos aqui – Newsday, Guardian e The Daily Express, todos no formato mais moderno, tipo tabloide. Todos eles, segundo minha precária avaliação, apoiaram a oposição. Como a grande imprensa está sempre mais à direita, sou levado a supor que Patrick Manning, agora ex-primeiro-ministro, seria mais progressista. Mas, realmente, não tenho conhecimento da realidade para afirmar tal coisa.

Estavam aptos a votar 1 milhão de pessoas numa população em torno de 1,3 milhão de habitantes. O voto não é obrigatório.

Parlamentarismo e voto distrital

Politicamente, T&T é um país irrelevante no cenário da América Latina. Talvez o mais interessante seja anotar as diferenças, em relação ao nosso olhar brasileiro, do parlamentarismo e voto distrital, sistema copiado dos colonizadores, os ingleses.

1 – A disputa eleitoral se dá somente em cada um dos 41 distritos (39 em Trinidad e dois em Tobago), para a eleição dos 41 membros do Parlamento (MPs). Vão integrar a House of Representatives (Casa dos Representantes), o mesmo nome usado na Inglaterra e países colonizados por ela, como Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.

2 - Sendo eleito em seu distrito, pelo partido que consegue a maioria das cadeiras, o MP (ou a MP) que lidera seu partido torna-se então primeiro-ministro (ou primeira-ministra).

3 – Os senadores e o presidente da República não são escolhidos pelo voto popular. São nomeados pelo Parlamento, de acordo, e proporcionalmente, com os resultados eleitorais. O presidente não governa (espécie de rainha da Inglaterra), quem escolhe os ministros e governa é o primeiro-ministro (agora primeira-ministra).

4 – Ao todo concorreram 99 candidatos nos 41 distritos: 96 registrados por cinco partidos e mais três chamados independentes (sem partido).

5 – Para nossos padrões, a campanha foi curtíssima – apenas cinco semanas. Com inserções pagas pelos partidos nas TVs. Até a meia-noite do dia da eleição já se sabia o resultado.

6 – Uma diferença gritante dos nossos costumes políticos: o pleito foi no dia 24, dois dias depois, dia 26 à tarde, a nova primeira-ministra já estava sendo empossada no cargo.

7 – As pesquisas de opinião não têm tanta importância. Vi uma pesquisa onde Kamla Persad-Bissessar, hoje primeira-ministra, aparecia como a mais querida e popular entre a população. Mas se observava que isso não teria peso significativo na votação. É que ela, na verdade, só foi votada no seu próprio distrito. Para chegar a primeira-ministra, como chegou, ela dependeu de cada disputa em cada um dos distritos. Muito diferente do nosso presidencialismo.

Comentários

Anônimo disse…
Apesar da aparente falta de efervescência política, parece ser um sistema que funciona ao nível institucional e se as pessoas (eleitores) legitimam o sistema indo as urnas é porque é bom para estas pessoas. Como diria Aristóteles, cada povo tem o governo que merece.

Fabiano