Diálogos trinidenses

De Porto Espanha (Trinidad e Tobago) – “Ah! Você é do Brasil! Conheço algumas coisas do Brasil, da música brasileira, do futebol, sou muito ligado a música, conheço, por exemlo, Antonio Carlos Jobim, ‘very good’, cantou nos Estados Unidos com Frank Sinatra, muito bom...”



Não sei se o “diálogos” do título é apropriado. É uma conversa entrecortada, através do estranho inglês crioulo caribenho. George tem 68 anos e guarda lembranças antigas de um Brasil antigo, ou nem tanto, digamos do tempo da juventude de minha geração, anos 50, 60.



Estamos no Parque Savana (Queen's Park Savannah), final de uma tarde de abril, ainda batendo aquele vento quente da ensolarada e calorenta cidade Port-of-Spain, aquele “bafo” que conheci no agreste do norte da Bahia, lá para as bandas de Jeremoabo, Cícero Dantas e Paulo Afonso, onde imperou no início do século passado o rei do cangaço Lampião, bandido/heroi do Nordeste brasileiro. Aliás, o Parque Savana, com o calorzão e a secura da vegetação, tem todo o jeito do nosso Nordeste. Numa das suas margens - para dar o tom da paisagem -, vemos a monumental National Academy of Performing Arts, que lembra logo a Sydney Opera House (Austrália). Em outro lado, o belo e antigo prédio do Queen’s Royal College.



“Sim, Tom Jobim, muito importante, muito conhecido no Brasil, morreu relativamente jovem, é considerado um dos três principais criadores do movimento chamado Bossa Nova, juntamente com João Gilberto e Vinicius de Moraes. Conhece João Gilberto? Ele tem um disco, famoso internacionalmente, com o saxofonista norte-americano Stan Getz”.



“Não me recordo, conheço bem Stan Getz, mas me lembro de Astrud Gilberto”, respondeu George. Ele não se lembrava de ter ouvido falar em João Gilberto e Vinicius. Conhece, no entanto, Astrud Gilberto, praticamente desconhecida no Brasil, mesmo porque tem toda sua carreira no exterior, a partir dos Estados Unidos. Astrud vem a ser ex-mulher de João Gilberto, era amiga da musa da Bossa Nova, Nara Leão. Atualmente, aos 70 anos, continua cantando a músca brasileira no exterior.

George me falou então das orquestras de Sérgio Mendes e de Peruzzi, ambos brasileiros que fizeram muito sucesso no Brasil e no exterior, anos 60, 70, creio que tiveram grande atividade nos Estados Unidos.

“Me recordo bem das músicas dançantes da orquestra de Sérgio Mendes, porém da de Peruzzi nunca tinha ouvido qualquer menção”, disse eu.

Ele falou dos ritmos mais tocados e cantados em Trinidad e Tobago: “soca” (o tipo de música mais ouvido por aqui, de origem africana), “calipso” (segundo ele, herança dos tempos de colônia francesa – T&T foi colonizado pela Espanha, depois França e depois Inglaterra) e também o reggae, marca registrada da Jamaica, outra ilha do Caribe.

“Outra coisa que não esqueço – continuou George - é a seleção de futebol de 1958, quando o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez. Pelé, Vavá, Nilton Santos, Bellini...”

“...Garrincha, Clodoaldo, Gilmar”, acrescentei e, na minha cabeça, flashes da turma na minha pequena cidade natal, Seabra, interior da Bahia, Chapada Diamantina, ouvindo os jogos pelo rádio, Alceu Correia Guedes e Gonçalves, pernambucano, coletor (hoje seria auditor) federal, vibrando com um gol do centroavante Vavá, também nascido em Pernambuco, gritando “do pernambuquinho!!!”

“O que mais conheço do Brasil?”, George repete minha pergunta e responde: “De Eder Jofre, grande lutador de box” (foi campeão mundial em 1960, “peso galo”, e 1973, “peso pena”).

E assim, a tarde termina e a conversação vai chegando ao fim, fatiada e maltratada pelo idioma.

(As fotos, de autoria do colombiano Armando Viveros, são do Parque Savana, da National Academy of Performing Arts e do Queen’s Royal College).



Comentários

Anônimo disse…
É preciso perseverar na conversa. Vá cavocando pessoas com interesses em comum que a conversa flui.
Ah, teve caminhada do MST (um monte de gente de vermelho) na Av. Paralela... Só pra vc saber!

Abraço, Fabiano