Grande imprensa golpeia a democracia

Depois de dois anos de viagens pelo Brasil, América Latina e Caribe, tentando acompanhar os movimentos sociais e a política, me saltam na cabeça dois fenômenos:



1 – O protagonismo dos segmentos mais pobres da população no processo revolucionário de países como Venezuela e Bolívia, cujos governos hoje podem ser catalogados entre os mais progressistas da região, e onde já está em vigência o que podemos chamar de democracia participativa (por extensão, onde avança a luta em busca do socialismo por caminhos considerados não ortodoxos).


2 – A ação deliberada dos principais meios de comunicação - sob a tutela dos interesses do império estadunidense - para desqualificar tal processo e satanizar suas lideranças, em especial o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, hoje o mais destacado líder anti-imperialista nas Américas.



O fator determinante no avanço democrático é a participação ativa das maiorias mais pobres no dia-a-dia da política, o que resulta na aplicação de políticas públicas de inclusão social e de freios ao apetite insaciável dos conglomerados transnacionais. Quer dizer, as maiorias dos dois países acima (e outros, poderíamos acrescentar, por exemplo, Equador e Nicaragua) conseguiram ultrapassar a fase da democracia apenas representativa, na qual o povo é convocado somente para votar e escolher seu presidente periodicamente. Os movimentos sociais raramente vão às ruas defender os interesses das camadas mais esquecidas e injustiçadas e, quando vão, não logram mobilizações significativas.

O que se vê em Caracas e La Paz é a presença quase diária de manifestações de rua, passeatas, ruas “trancadas”, promovidas pelos mais diversos segmentos sociais. Uma vez, na Bolívia, escrevi um artigo me perguntando “com quantas ‘marchas’ e ‘bloqueos’ se faz uma democracia participativa (marchas e bloqueos).


Este critério – a participação direta do povo no dia-a-dia da política – é o básico, na minha opinião, para identificar o grau de democracia de um país. Em consequência, o grau de avanços em favor dos trabalhadores e dos mais “fracos”, como o povo costuma chamar os pobres. Ou ao contrário: o grau de assaltos às riquezas nacionais perpetrados pelos mais ricos.


Mas os critérios da chamada grande imprensa são outros. O básico é identificar se tais políticas e tais governos ameaçam ou não os ganhos das grandes empresas transnacionais, que insistem em governar o mundo, mesmo que os eleitores de qualquer país nunca tenham sido consultados neste sentido. Hugo Chávez é tratado pela maioria dos órgãos de comunicação do Brasil como “ditador”, como “truculento”, embora nos seus 11 anos de presidência tenha enfrentado 12 eleições: ganhou 11 e perdeu uma. Evo Morales, que é menos atacado que seu aliado Chávez, mas volta e meia é referido como “totalitário”, enfrentou cinco eleições a partir de 2005, quando foi eleito presidente da Bolívia: ganhou todas.
Aliás, o professor norte-americano Noan Chomsky, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês), disse em recente entrevista que os comentários elogiosos do presidente Lula sobre Chávez e Morales não são publicados pela imprensa dos Estados Unidos, porque os dois não são considerados modelo (modelo do agrado do império, evidentemente).


Só para ilustrar: no Jornal Nacional, da TV Globo, no dia primeiro de fevereiro, foi noticiado que a oposição venezuelana divulgou um manifesto pedindo o afastamento de Chávez, alegando que após 11 anos de governo ele já teria demonstrado cabalmente sua incapacidade para resolver os problemas do país, etc, etc. Entretanto, o JN sonegou aos seus milhares de telespectadores a resposta do presidente: se a oposição quer o seu afastamento, é só apelar para o referendo revogatório, um dispositivo que está lá na Constituição (dispositivo existente apenas em constituições das democracias mais avançadas), pelo qual os eleitores podem dizer, a qualquer altura do mandato, se o presidente continua ou sai.


(Na mesma noite, o mesmo Jornal Nacional sonegou aos brasileiros a informação mais “quente” do noticiário político do dia: a última pesquisa da CNT/Sensus sobre a corrida presidencial indicava que a ministra Dilma Rousseff tinha empatado, tecnicamente, pela primeira vez, com o governador José Serra).


Ainda bem que temos os diversos blogs/sítios/sites na Internet, algumas rádios e TVs comunitárias, a imprensa sindical e alguns órgãos de comunicação que tentam contrabalançar, de alguma forma, os monopólios da mídia brasileira. O povo tem o direito a informar e não apenas a ser informado.


(Texto escrito em Salvador/Bahia/Brasil em fevereiro/2010).

Comentários

Anônimo disse…
Esse pessoal só quer saber de dinheiro. Grandes empresas de comunicação precisam ser é mais controladas pelo público... e não o oposto!
Grande Timoneiro, Jadson essa matéria vem em boa hora, quando o DataFolha, da familia Frias do reacionario Otavinho tenta tirar Serra da UTI.
reproduzimos no nosso blog.
abraços.
E vá de devagar com o run caribenho, na lavagem do Bonfim Jorge Almeida me deu uma dose, e eu fiquei doidinho e cai no rebolation, só cheguei na colina do bonfim, por que fui amaparado por uma morena cor de Jambo.
Braços
Jadson disse…
É isso mesmo, Fabiano, controle público, não do governo, na defesa dos interesses coletivos, da soberania nacional e popular. Comunicação é direito humano. Os monopólios usam o jargão de liberdade de expressão, na verdade liberdade das empresas, dos seus negócios, para assaltar as riquezas nacionais e manter o povo desinformado, manipulado.

Grande Rui, além do nosso blog Ananindeua Debates (onde tenho o espaço Diário de um blogueiro, criado pelo companheiro), o artigo foi publicado também no Fazendo Media: a média que a mídia faz.

Tento ficar alerta quanto aos efeitos do rum caribenho, afinal de contas não é todo mundo que tem o privilégio de andar com uma morena cor de jambo.
Jadson disse…
Transcrevo aqui comentário feito no blog Fazendo Media, onde este meu artigo, como disse acima, está publicado:

"Comentário de l.alves
Em 01/04/2010 às 3:12

A horda da mídia nacional composta pela globo, veja, folha, estadão, band, sbt, rede tv e o resto da mídia vende-pátria são pau-mandados midiáticos aliados ao Departamento de Estado dos EUA/CIA. Com o claro objetivo de manter o nosso País e a nós, trabalhadores/as brasileir@s, colonizados e sob as botas do império capitalista decadente dos EUA/UE, a quem eles servem (isto é óbvio) …
Por isto, volto a recomendar a tod@s @s colegas a prestigiarem o sítio/Tv ao vivo Telesur: http:(nao vou colocar o endereço porque o ant-span automático do FM exclui o post … infelizmente)
e também a nossa TV Camara, http:(idem)
Vamos fazer uma campanha nacional para exigir do congresso o cumprimento das propostas de democratizaçao da comunicaçao tiradas na CONFECOM.
Esqueçam a mídia pilantra nacional!
“minha tv tá juntando teia de aranha e seu destino é incerto …!”

O endereço do sítio/site da Telesur, a que o companheiro se refere é http://www.telesurtv.net
A telesur (em português, Telesul) tem como lema "Nosso norte é o sul". No Brasil, infelizmente, a emissora é pouco conhecida/ouvida/assistida. É uma empresa multiestatal, a sede é na Venezuela, participam dela, além do governo venezuelano, os da Argentina, Bolívia, Cuba, Equador e Nicaragua.
Unknown disse…
A mídia age mesmo como um Quarto Poder aqui no Brasil. No entanto, eu ainda acho que Chávez é um ditador.
Afinal, por que outro motivo ele insistiria tanto em ser insubstituível?
Jadson disse…
É isso aí, companheiro "Alguém berra", prazer em tê-lo por aqui, mesmo discordando, abraço.