Os pedaços do ditador esmagados pelo bloco de pedra e cimento
Agora, espia aqui amiga, a 10 passos, o símbolo das feridas da ditadura: a homenagem a Mario Raúl Schaerer Prono, professor que aos 23 anos, em 1976, foi preso, torturado durante quase 24 horas e assassinado pela polícia política. Simboliza os milhares de opositores mortos (estimam entre 3.000 a 4.000). Veja a placa e as outras placas da Plaza de los Desaparecidos.
Preciso te dizer que ela se chamava Plaza General Alfredo Stroessner? Pois é, como muitas e muitas coisas que ostentavam o seu nome pelo país afora e que tiveram o nome trocado depois de 3 de fevereiro de 1989. É o caso, por exemplo, da Ciudad del Este, a maior do interior do país, na fronteira com o Brasil, que se chamou Puerto Presidente Stroessner.
UM POUCO DE HISTÓRIA - Antes de visitarmos outros locais mais aprazíveis, quero te passar alguns dados históricos deste sofrido país. Stroessner era filho de imigrante alemão e na política sempre se mostrou anticomunista e simpatizante dos nazistas. Acolheu muitos deles no Paraguai depois da derrota de Hitler, assim como colegas ditadores derrubados de outros países.
Fez carreira militar rápida, a partir de campanha exitosa na Guerra do Chaco (contra a Bolívia em 1932-35), duas condecorações. Contam, porém, que um morteiro sob sua responsabilidade foi perdido para as forças inimigas, mas quem ousasse mencionar isso, na época do seu poder absoluto, estava literalmente frito. Chegou a general aos 36 anos – o mais jovem da América do Sul – e logo logo a comandante-chefe do Exército, ajudado por sua filiação ao Partido Colorado, no poder desde 1947 (e até 2008).
UMA VEZ ELE ERROU O PULO DO GATO - Os historiadores destacam a sua habilidade em estar sempre com o vencedor nos diversos golpes e contragolpes da política paraguaia। Só uma vez, amiga, ele errou o pulo e teve que passar pelo vexame de entrar na embaixada brasileira escondido no porta-malas de um carro. Mas se recuperou rapidamente.
De Assunção (Paraguai) – Vamos, minha amiga, quero te mostrar o que restou de Alfredo Gustavo Stroessner Matiauda। Materialmente, simbolicamente, o que se pode ver e apalpar, os pedaços do ditador, os olhos, o nariz, as mãos, os dedos... Esqueça o Paraguai, as feridas espalhadas por todo país, os benefícios (para alguns), os malefícios (para muitos)... Praça dos Desaparecidos: à D, o bloco de pedra; ao fundo, o Palácio do Governo
Vamos nos concentrar aqui na Praça dos Desaparecidos, diante deste monumento terrível, a condenação implacável da história, tão terrível de se ver que julgaram ociosa uma placa explicativa: um bloco de pedra afogando em cimento e dor os pedaços da cara, do corpo. E ainda atracado por cabos de aço para que força humana (ou desumana) não cogite algum tipo de regresso.
Está aí, no mesmo lugar onde estava a estátua de Stroessner, soberano por quase 35 anos (1954-1989), certamente com aquela imponência marcial das coisas julgadas, momentaneamente, eternas। Feita em pedaços e enterrada após a derrubada da ditadura. Ao lado está o belo Palacio de los López (ou Palácio do Governo), de onde reinou o "presidente" reeleito sete vezes consecutivas, sempre "candidato" único, sempre com percentuais de votação altíssimos.
Agora, espia aqui amiga, a 10 passos, o símbolo das feridas da ditadura: a homenagem a Mario Raúl Schaerer Prono, professor que aos 23 anos, em 1976, foi preso, torturado durante quase 24 horas e assassinado pela polícia política. Simboliza os milhares de opositores mortos (estimam entre 3.000 a 4.000). Veja a placa e as outras placas da Plaza de los Desaparecidos.
Preciso te dizer que ela se chamava Plaza General Alfredo Stroessner? Pois é, como muitas e muitas coisas que ostentavam o seu nome pelo país afora e que tiveram o nome trocado depois de 3 de fevereiro de 1989. É o caso, por exemplo, da Ciudad del Este, a maior do interior do país, na fronteira com o Brasil, que se chamou Puerto Presidente Stroessner.
UM POUCO DE HISTÓRIA - Antes de visitarmos outros locais mais aprazíveis, quero te passar alguns dados históricos deste sofrido país. Stroessner era filho de imigrante alemão e na política sempre se mostrou anticomunista e simpatizante dos nazistas. Acolheu muitos deles no Paraguai depois da derrota de Hitler, assim como colegas ditadores derrubados de outros países.
Fez carreira militar rápida, a partir de campanha exitosa na Guerra do Chaco (contra a Bolívia em 1932-35), duas condecorações. Contam, porém, que um morteiro sob sua responsabilidade foi perdido para as forças inimigas, mas quem ousasse mencionar isso, na época do seu poder absoluto, estava literalmente frito. Chegou a general aos 36 anos – o mais jovem da América do Sul – e logo logo a comandante-chefe do Exército, ajudado por sua filiação ao Partido Colorado, no poder desde 1947 (e até 2008).
UMA VEZ ELE ERROU O PULO DO GATO - Os historiadores destacam a sua habilidade em estar sempre com o vencedor nos diversos golpes e contragolpes da política paraguaia। Só uma vez, amiga, ele errou o pulo e teve que passar pelo vexame de entrar na embaixada brasileira escondido no porta-malas de um carro. Mas se recuperou rapidamente.
Em 1954, após mais um golpe militar, Stroessner foi proclamado "presidente". Pronto, a partir daí soube se manter no poder na base da repressão feroz e da corrupção, tendo como parceiros as Forças Armadas e o Partido Colorado. Governou manejando as "leis" dos favores para os amigos e da perseguição, tortura, morte, prisão e exílio para os opositores, em especial os comunistas. E, do ponto de vista da economia, atrelado aos interesses do império dos Estados Unidos. Não teve uma relação harmoniosa com a Igreja Católica, o que é apontado como um dos seus pontos fracos.
Na era de terror dos anos 70 na América do Sul, participou com seus colegas ditadores do Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Bolívia e Equador da tenebrosa Operação Condor, responsável pela perseguição, tortura e assassinato de milhares de opositores, especialmente da esquerda।
Em 1989, com os ventos do neoliberalismo soprando fortes – o governo de Stroessner foi estatizante por excelência -, as ditaduras militares já anacrônicas e as manifestações populares saindo às ruas, mesmo reprimidas, chegou a vez de se jogar na lixeira a já incômoda ditadura stronista (se usa este adjetivo por aqui). As mesmas elites "brancas" do Partido Colorado, que se fartaram nas entranhas do terror, tiveram espaço e souberam manipular as forças políticas em contenda.
Mais um golpe, desta vez liderado pelo chefe militar de Stroessner, o general Andrés Rodríguez Pedotti, com o respaldo dos Estados Unidos. (O golpista era "consuegro" do golpeado. Como dizer em português? co-sogro? Rodríguez tinha uma filha casada com um filho de Stroessner). Enquanto o ditador ia para o exílio no Brasil (onde morreu em 2006, perto de completar 94 anos), o mesmo Partido Colorado continuava no governo (até 2008, repito).
É quase sempre assim, amiga, infelizmente.
MARIO RAÚL - UM CASO EXEMPLAR - Já está cansada, amiga? Deixa eu acrescentar só mais um dado. O martírio de Mario Raúl, referido acima, tornou-se um caso exemplar, especialmente nos dias atuais quando estão amargando o banco dos réus torturadores da Argentina, Chile, Bolívia, Uruguai, Peru (onde mais? no Brasil, neste particular, estamos atrasados).
Em 1999, dez anos depois da queda da ditadura e do início de uma ação judicial, a Corte Suprema de Justiça do Paraguai - finalmente, pressionada pela mobilização da sociedade - chancelou a condenação dos autores intelectuais e materiais (mandantes e executores) das torturas e assassinato do jovem professor. Foram condenados a 25 anos de prisão.
Os maiores culpados, porém, se safaram. Stroessner e seu ministro do Interior, Sabino Augusto Montanaro, ficaram de fora do processo judicial porque estavam fora do país.
Isto também quase sempre acontece, não é amiga?
Agora, para fechar, passo a palavra a Guillermina Kanonnikoff, autora da ação na Justiça e viúva de Mario Raúl, a qual foi presa juntamente com o marido e ficou um ano e sete meses na prisão:
"A conquista mais significativa desta ação judicial é que a condenação se qualifica como crime de lesa humanidade e se deixa de lado a tese da obediência devida. Além disso, estabelece o precedente histórico em nosso país e na América Latina na luta contra a impunidade, por haver sido a primeira sentença de condenação a responsáveis diretos por um homicídio por tortura a preso político, cometido por autoridades públicas em dependências policiais".
Comentários
Texto excelente sobre ditadores caídos!
Veja essa matéria no Observatório da Imprensa comentando a matéria de capa da veja dessa semana:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=557IMQ008
Tem a ver com o tema e já tinha notado algo curioso:
A Veja não é protegida por plástico na fila do supermercado. Você pode ler a vontade de graça! Por que será?
Abraço,
Fabiano
Quanto a se deixar ler nos pontos de venda, não sei bem, mas acredito que faturamento não é problema para os donos da editora Abril. Outro dia li um artigo de um estudioso da área (acho que me foi enviado pelo Heitor Reis, de Belo Horizonte, batalhador pela democratização da mídia, devo ter guardado em algum arquivo, mas não estou encontrando). Denunciava os rios de dinheiro que saem do Ministério da Educação e do governo de São Paulo e desembocam na conta da Abril. Ironicamente, o autor fazia uma sugestão chocante: uma campanha pela “privatização” da Veja.
Abraço,
Fabiano