2 de Julho


Dá gosto ver tanta gente ao longo do trajeto do cortejo das comemorações do dia 2 De julho। Uma festa cívica realmente peculiar, como muitas outras coisas que só acontecem na Bahia. O gringo suíço Jean Pierre não acreditava no que via: “Muito bom, hã?” repetia.

“Como, independência? A nossa independência não foi no dia 7 de Setembro?”, diriam outros brasileiros não baianos.


A deputada federal Lídice da Mata disse certa vez que uma das dificuldades para convencer os colegas sobre a mudança do nome do nosso aeroporto é que os “nobres” deputados e senadores não sabem da importância do 2 de julho para a Bahia e o Brasil।

Os parlamentares não sabem que teve muita luta e gente (índios, vaqueiros, freira e todo o povo de Salvador e do Recôncavo) que se envolveu numa verdadeira batalha para expulsar daqui os portugueses resistentes।

Só a partir de 2 de Julho de 1823, dez meses depois do grito heróico de D. Pedro às margens do Ipiranga, a independência do Brasil se consolidou, aqui, sem a tran qüilidade repassada na didática escolar.


Os baianos valorizam muito essa história omitida nas escolas e instituições do país (nos rituais obrigatórios da Presidência da República não deveria constar a participação do titular de plantão nessa data?) e vão para as comemorações com tudo o que têm direito. Ou quase tudo, porque nesse ano faltaram as faixas e os panfletos e a defesa pelo retorno do nome do aeroporto de Salvador para 2 de Julho.



“A saga de um povo não pode ser substituída por um só homem”, esse era um slogan bastante utilizado nas comemorações após a mudança do nome do nosso aeroporto para homenagear o filho morto de AC M, que também já se foi.




Mas teve gente do povo que lembrou essa luta e cobrou na camiseta a tão ansiada mudança que os políticos prometeram e... esqueceram.


Neste ano, como em todo ano de campanha eleitoral, o palanque público e ao ar livre (com direito a estréias e teste de popularidade das candidaturas recém oficializadas nas convenções partidárias que se realizam em junho) deu uma idéia de como serão feitas as campanhas.


O PMDB, por exemplo, levou o estilo do ministro Geddel para vender a candidatura de João Henrique à reeleição: colocou muito balão gigante com a sigla, banda e toda uma produção para impressionar no trajeto, que começa na Lapinha, passando pelas principais ruas do bairro de Santo Antônio e do Pelourinho e termina no Terreiro de Jesus.



O PT desfilou com número, porém sem as suas principais estrelas, porque elas estavam no bloco chapa branca do governador .

Ponto para o partido. Afinal, Wagner foi às convenções dos candidatos a prefeito de Salvador que compõem a base aliada, mas quem se sentiu à vontade para desfilar no 2 de Julho ao lado do governador foi o seu correligionário Walter Pinheiro.

Pinheiro desfilou ao lado de Wagner e da sua candidata a vice - prefeita, Lídice da Mata (PSB), ex-prefeita de Salvador.

O Dem também passou querendo fazer alvoroço, mas nem de longe lembrou os tempos do estardalhaço que ACM fazia. Difícil mesmo era identificar o candidato ACM Neto naquele ba-fa-fá.

O PSDB bem que fez barulho, mas Imbassahy passou normal.

O PSOL trouxe novamente a sua estrela principal, a ex-senadora Heloísa Helena, que procurou ser notada abrindo o sorriso e carregando nos braços um buquê de flores।



Independente do jogo político explícito no cortejo, o caboclo e a cabocla, símbolos dos nossos heróis, impressionaram visitantes e reencataram os baianosComo também chamaram atenção:

- o orgulho dos estudantes que apresentaram passos e toques ensaiadíssimos representando as escolas públicas,


- o ar de dever cumprido dos ativistas e militantes de movimentos sociais que reclamam contra a impunidade, como no caso dos parente das vítimas da explosão da fábrica de fogos em Santo Antônio de Jesus, há 11 anos,

-o protesto contra a intervenção no Rio Seixas, na Avenida Centenário,


-a luta da UFBA pelo pagamento da URV, das universidades estaduais,


- denúncia contra a discriminação contra a mulher e o rastafari no mercado de trabalho।


Todo ano é assim: calçadas e janelas dos velhos casarões e sobrados ficam lotadas por moradores e populares que relembram com orgulho a nossa saga pela independência e levantam novas bandeiras de liberdade e direitos de liberdade e cidadania। Tudo com muita alegria e beleza, porque nessa festa o público também se enfeita, se fantasia e se exibe.

Joana D’Arck

Comentários

Anônimo disse…
Salve o 2 de Julho! Salve a nossa editora, Joana D’Arck (queridíssima Joaninha, para os íntimos), falando desta festa peculiar, popular, baiana por excelência, reportada aqui muito bem. E, claro, revivendo os velhos e bons tempos de repórter. Como é bom ter o nosso próprio “jornal”, sem salário e sem patrão, para reportar, simplesmente reportar, com nossa técnica e nosso sentir.
Havia muito tempo que não participava do 2 de Julho, penso mesmo que nunca estive na festa para somente curtir aquela espontaneidade popular, uma beleza própria das coisas naturais da gente simples, sofrida, autêntica, que um dia (quando!!??) quebrará as amarras de sua mente e se transformará em verdadeiros protagonistas dos destinos da nação. Neste caso, creio que o essencial é espontâneo (ou seria o contrário, o espontâneo é essencial?). Nada de torcer o nariz para as manifestações armadas pelos partidos políticos, pelos movimentos sociais, pelos candidatos. Isto soma, amplia, não diminui. Resumindo, gostei demais.
Uma homenagem especial aos militantes sociais e políticos. Pessoas admiráveis que aproveitam a grande festa para defender suas idéias, manter acesa a tocha de suas convicções, em luta, sempre, vários desde os tempos duros da ditadura militar, continuando firmes também contra a ditadura neoliberal. Penso que faço justiça ao mencionar um, como representativo, louvando a todos: o professor Joviniano Neto. Estava lá com um grupo de professores, como sempre esteve, defendendo o ensino público, gratuito e de qualidade. Vejo-o sempre, também, no Grito dos Excluídos, organizado pelos católicos todo 7 de Setembro. Democrata, católico, não anti-comunista. Conheço-o desde os “tempos de chumbo”, na trincheira do CEAS (Centro de Estudos e Ação Social, de padres jesuítas e leigos, 40 anos de estrada em favor do povo pobre), no movimento pela anistia, no reforço de partidos políticos. Uma figura exemplar.
No mais, que nossa editora, além do brilho da edição, volte outras vezes para fortalecer e matizar os textos deste blog, que é, façamos justiça, mais dela do que meu e de Deta, nossa fotógrafa.
Jadson