FERNANDO BRITO: O SUCESSO TÉCNICO DA PETROBRAS, A FORÇA DO PRÉ-SAL E O DESPEITO DOS ENTREGUISTAS


(Foto: Tijolaço)
O que está colocado diante da Petrobras não é investir modestamente: é investir pesado ou entregar o petróleo.
Por Fernando Brito, no seu blog Tijolaço, de 01/04/2015
Não sei se foi buscar lã e saiu tosquiada, mas o fato é que a Folha, hoje, acaba sendo forçada – claro que com uma série de senões – a reconhecer o extraordinário sucesso da Petrobras na exploração do óleo do pré-sal brasileiro.
O moto é o de que a Petrobras estaria “economizando” em investimento pelo fato de os poços do pré-sal serem mais produtivos que o esperado.
O que se previa produzindo 15 mil barris por dia por poço, em média, produz, hoje, 25 mil barris por poço a cada 24 horas.
Isso é uma monstruosidade: no Mar do Norte, a média é 15 mil barris de petróleo por poço/dia e, no Golfo do México, são 10 mil barris de petróleo por poço/dia.
No campo de Lula um poço produz tanto quanto um do Mar do Norte e outro do Golfo do México, somados. Alguns poços do pré-sal chegam, entre óleo e gás, a 45 mil barris por dia de média e o primeiro teste de produção de Libra espera rendimento de 50 mil barris diários.
É meia-verdade, no curto prazo, a economia.
É óbvio que um poço que produz quase o dobro é mais lucrativo. Mas também exige mais equipamentos processar e armazenar, para transporte, esta quantidade maior de óleo.
Um navio-plataforma com capacidade de processar 120 mil barris diários abrangeria oito ou nove poços produtores e mais outros tantos, ou quase tantos, para injetar água e produzir a pressão que fizesse jorrar o petróleo nos poços produtores.
Isso aconteceu, por exemplo, com o navio-plataforma  Cidade de Angra dos Reis, no campo de Lula. Era previsto que ela atingisse sua capacidade, de 100 mil barris por dia, por meio de seis poços. Mas foram necessários apenas quatro, cada um produzindo cerca de 24 mil barris por dia, para chegar à marca.
Com um produção por poço quase dobrada, passam a ser necessários outros navios-plataforma e isso entra no terreno das variações possíveis na exploração, sobretudo quando se trata de jazidas de grande extensão e acumulação. Porque o petróleo não fica numa “piscina” subterrânea de perfeita comunicação entre um trecho e outro, mas impregnado em rocha porosa e um poço não pode “chupar” o óleo contido em  formações mais distantes: é necessário, mesmo, uma “teia” de “espetadas” para aproveitamento integral da parte recuperável daquela reserva.
É por isso que a Petrobras está enfiada em exigências imensas de investimento e não por “imprudência” gerencial.
O que está colocado diante da Petrobras não é investir modestamente: é investir pesado ou entregar o petróleo.
É simples assim: quem defende uma redução dos investimentos da Petrobras além de um certo ponto, o da viabilidade econômica de manterem-se reservas identificadas sem explorá-las, defende a entrega destas jazidas às petroleiras internacionais.
Vêm daí as pressões pelo estrangulamento financeiro da Petrobras, mas que não será fácil.
Como fez hoje a China, há no mundo sempre alguém para negociar créditos a uma empresa que está sentada sobre as maiores jazidas de petróleo recentemente descobertas, para que ela não tenha, simplesmente, de permanecer sentada e inerte.
É por isso que, como você vê na matéria da Folha, a industria petroleira quer, tão boazinha, “aliviar” a Petrobras de ter de fazer investimentos tão pesados.
São bonzinhos, muito bonzinhos…

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